Clara Rosa Guimarães, jornalista de Cadernos de Saúde Pública, Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP/Fiocruz), Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
Grandes desastres envolvendo rompimento de barragens devastaram o Brasil nos últimos anos. Eventos traumatizantes como esses têm efeitos na morbidade, mortalidade e perfil de uso de medicamentos das populações afetadas. Em vista disso, é necessária a investigação da mudança no consumo de psicoativos, em especial nos oito municípios diretamente afetados pelo rompimento da Barragem de Fundão, em Mariana, Minas Gerais.
Publicado no periódico Cadernos de Saúde Pública, o artigo Consumo de psicoativos após o desastre da Barragem de Fundão, em Minas Gerais, Brasil analisou o consumo desses medicamentos em Alpercata, Belo Oriente, Galiléia, Governador Valadares, Itueta, Mariana, Resplendor, Tumiritinga, Aimorés e Periquito, utilizando dados de compras públicas e distribuição de farmácias privadas do varejo durante um período de 25 meses.
Figura 1. Tendências lineares no consumo de medicamentos selecionados em farmácias de varejo antes e após o desastre do rompimento da barragem de Fundão em municípios afetados no estado de Minas Gerais, Brasil, 2015-2017.
O estudo, que reuniu pesquisadores da Universidade Federal Fluminense (UFF), Università del Piemonte Orientale, BlissMe Tech, Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), utilizou base de dados de compras públicas do Sistema Integrado de Gestão da Assistência Farmacêutica do Estado de Minas Gerais e informações de dispensação de farmácias de varejo. A metodologia permite comparações de uso antes e depois do desastre, estratificando os municípios de acordo com o nível de consumo.
Os resultados da pesquisa mostraram aumento significativo no varejo farmacêutico após o desastre. O clonazepam liderou o consumo neste mercado, seguido pela fluoxetina, diazepam e amitriptilina. Essa tendência de aumento no consumo levanta questões importantes sobre os impactos do desastre na saúde mental das populações afetadas.
A abordagem apresentada neste artigo é inédita no Brasil, podendo ser empregada como estratégia de monitoramento de curto a longo prazo após um evento. Também é fundamental para auxiliar a formulação de políticas públicas de enfrentamento de futuros desastres e uso racional de medicamentos nesses contextos. Pode também orientar os setores envolvidos no desenvolvimento social e econômico para a recuperação de municípios mais vulneráveis.
GUIMARÃES, C.R. Varejo farmacêutico apresentou alta no consumo de psicoativos após desastre da Barragem do Fundão [online]. SciELO em Perspectiva | Press Releases, 2024 [viewed ]. Available from: https://pressreleases.scielo.org/blog/2024/04/29/alta-no-consumo-de-psicoativos-apos-desastre-da-barragem-do-fundao/
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