A Pesquisa Nacional de Saúde de 2019 alerta sobre aumento de depressão em pessoas idosas

Maria Cecília de Souza Minayo, Editora-chefe, Revista Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.

Luiza Gualhano, Editora assistente, Revista Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.

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Num passado bem recente todo o sistema de saúde brasileiro se voltava para crianças e para cuidados a pacientes com doenças infecciosas. Hoje é preciso — sem descuidar de ninguém — fazer uma reviravolta e olhar para a outra ponta da pirâmide, a população idosa que já passou de 32 milhões de pessoas, sendo maior que a de muitos países do mundo!

Nesse sentido, é muito relevante o estudo Sintomas depressivos na população idosa brasileira: um estudo baseado na Pesquisa Nacional de Saúde – 2019 de Sguerri, et al. (Ciência & Saúde Coletiva, vol. 30, no. 7, 2025) que faz uma análise sobre sintomas depressivos na população idosa brasileira tendo como base dados a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS). A PNS é um inquérito de abrangência nacional realizado em consórcio entre IBGE/Ministério da Saúde e Fiocruz.

A última pesquisa foi realizada em 2019 e aporta um diagnóstico situacional de saúde da população brasileira e sobre a utilização dos serviços de saúde. Nas duas últimas edições (2013 e 2019), o inquérito incluiu um instrumento de rastreamento de sintomas depressivos. Esses são os primeiros estudos nacionalmente representativos sobre prevalência e fatores associados a esses sintomas, usando o Patient Health Questionnaire-9 (PHQ-9) para rastreamento. Na PNS 2019 foram coletados dados de 21.965 brasileiros e brasileiras de 60 anos ou mais.

Embora seja preciso lembrar que envelhecimento não é doença, principalmente nas idades avançadas, ele pode ser acompanhado por um aumento progressivo de enfermidades crônicas não transmissíveis (DCNT, Doenças Crônicas Não Transmissíveis) de origem não infecciosa, resultantes da combinação de fatores genéticos, fisiológicos, comportamentais e ambientais. De curso prolongado, as principais doenças que ocorrem são as cardiovasculares, as respiratórias crônicas, os cânceres e a diabetes.

Tal situação afeta boa parte da população envelhecida, que cresce aceleradamente no país, lança luzes sobre a questão mental, pois várias das referidas doenças se associam à ocorrência de transtornos depressivos. (Sousa, et al., 2018; Zhang Yin, et al., 2018; Maier, et al., 2019). Além do impacto sobre a saúde física, tais sintomas representam elevado custo social, perda de qualidade de vida, comorbidades, incapacidade funcional, demência e isolamento social e afetivo (Hellwig, 2016; Stopa, et al., 2020).

Os transtornos depressivos caracterizam-se pelo estado emocional de tristeza, perda de interesse ou prazer, sentimento de culpa, diminuição da autoestima, distúrbio de sono ou apetite, cansaço e dificuldade em concentração. Eles podem manifestar-se como um episódio leve, moderado ou grave ou como uma “distimia”, uma manifestação crônica de transtorno depressivo leve. O PHQ-9 permite avaliar a presença dos seguintes sintomas: humor deprimido, cansaço ou falta de energia, anedonia, alteração do sono, do apetite ou peso, sentimento de culpa ou inutilidade, alterações de concentração, inquietação ou desânimo e pensamentos suicidas.

A depressão é o transtorno mental mais comum. Em 2015, 322 milhões de pessoas no mundo (4,4% da população) apresentavam esse problema, um crescimento de 18,4% em relação a 2005 (WHO, 2017). No Brasil, a PNS de 2019 mostrou que um em cada dez (10,9%) adultos entre 18-59 anos sofre depressão grave (Stopa, et al., 2020) A prevalência entre os idosos brasileiros é de 13,2%. A população mais afetada são as mulheres idosas, as pessoas de 80 anos ou mais, as que autoavaliam negativamente sua saúde e as que sofrem duas ou mais doenças crônicas.

Sguerri, et al. (2025) resumem seu estudo, mostrando que, entre as pessoas idosas brasileiras, os sintomas depressivos podem estar associados a características sociodemográficas; são menos prevalentes no Norte, no Nordeste e na população rural (Correa, et al., 2020) e a condições de saúde, corroborando com achados de outros estudos epidemiológicos de base populacional. Ressaltam que as condições de saúde objetiva e subjetivamente mensuradas (especialmente as últimas) são os fatores mais fortemente associados a sintomas depressivos.

À luz desse contexto, a consulta médica constitui uma oportunidade valiosa para investigação desse sofrimento mental, ainda que não seja com um profissional especializado, uma vez que muitos sintomas podem ser modificados com ações de apoio, afeto, compreensão e tratamento adequado. A falta de atenção aos sintomas leves pode agravá-los e existe a possibilidade de pessoas, com pouca proteção, apoio e em isolamento social tirarem a própria vida. É preciso dar condições objetivas de os idosos brasileiros viverem a última etapa de sua vida com apoio, carinho, compreensão e cuidados adequados.

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Ciência & Saúde Coletiva, vol. 30, no. 7, 2025

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SGUERRI, V.S., CASTRO-COSTA, E. and LOYOLA FILHO, A.I. Sintomas depressivos na população idosa brasileira: um estudo baseado na Pesquisa Nacional de Saúde – 2019. Ciênc. saúde coletiva [online]. 2025, vol. 30, no. 7, e00362024 [viewed 18 August 2025]. https://doi.org/10.1590/1413-81232025307.00362024. Available from: https://www.scielo.br/j/csc/a/sDdqzgHWby58ptg6L73GTLv/?lang=pt

Referências

CORRÊA, M.L., et al. Depressão em idosos de uma região rural do Sul do Brasil. Ciência & Saúde Coletiva [online]. 2020, vol. 25, no. 6, pp. 2083–2092 [viewed 18 August 2025]. https://doi.org/10.1590/1413-81232020256.18392018. Available from: https://www.scielo.br/j/csc/a/bBD6tYJXZPPhGYkhfvf4Dbh/?lang=pt

HELLWIG, N., MUNHOZ, T.N. and TOMASI, E. Sintomas depressivos em idosos: estudo transversal de base populacional. Ciência & Saúde Coletiva [online]. 2016, vol. 21, no. 11, pp. 3575–3584 [viewed 18 August 2025]. https://doi.org/10.1590/1413-812320152111.19552015. Available from: https://www.scielo.br/j/csc/a/jQQnjJgn4Nm39XkDRYvMdsm/?lang=pt

MAIER, A., et al. Risk factors and protective factors of depression in older people 65+. A systematic review. PloS one [online]. 2021, vol. 16, no. 5, e0251326 [viewed 18 August 2025]. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0251326. Available from: https://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0251326

SOUSA, N.F.D.S., et al. Associação do transtorno depressivo maior com doenças crônicas e multimorbidade em adultos brasileiros, estratificada por sexo: Pesquisa Nacional de Saúde 2019. Revista Brasileira de Epidemiologia [online]. 2021, vol. 24, suppl. 2, e210015 [viewed 18 August 2025]. https://doi.org/10.1590/1980-549720210015.supl.2. Available from: https://www.scielo.br/j/rbepid/a/gYrgkcRnGTgWTjVTNSD9MNS/?lang=pt

STOPA, S.R., et al. Pesquisa Nacional de Saúde 2019: histórico, métodos e perspectivas. Epidemiologia e Serviços de Saúde [online]. 2020, vol. 29, no. 5, e2020315 [viewed 18 August 2025]. https://www.scielo.br/j/ress/a/RdbtmCHjJGt8xDW6bV3Y6JB/?lang=pt. Available from: https://www.scielo.br/j/ress/a/RdbtmCHjJGt8xDW6bV3Y6JB/?lang=pt

WORLD HEALTH ORGANIZATION. Depression and Other Common Mental Disorders: Global Health Estimates. Genève: WHO, 2017 [viewed 18 August 2025]. Available from: https://apps.who.int/iris/bitstream/10665/254610/1/WHO-MSD-MER-2017.2-eng.pdf

ZHANG, Y., CHEN, Y. and MA, L. Depression and cardiovascular disease in elderly: Current understanding. Journal of Clinical Neuroscience [online]. 2018, vol. 47, pp. 1–5, ISSN: 0967-5868 [viewed 18 August 2025]. https://doi.org/10.1016/j.jocn.2017.09.022. Available from: https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0967586816306282

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MINAYO, M.C.S. and GUALHANO, L. A Pesquisa Nacional de Saúde de 2019 alerta sobre aumento de depressão em pessoas idosas [online]. SciELO em Perspectiva | Press Releases, 2025 [viewed ]. Available from: https://pressreleases.scielo.org/blog/2025/08/18/a-pesquisa-nacional-de-saude-de-2019-alerta-sobre-aumento-de-depressao-em-pessoas-idosas/

 

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