Avaliação de desempenho traz metas inatingíveis para bancários

Cristiane Oliveira Reimberg, analista em Ciência e Tecnologia, jornalista da Fundacentro, São Paulo, SP, Brasil.

Logo do periódico Revista Brasileira de Saúde OcupacionalNa fase neoliberal do capitalismo, a dominação sobre os trabalhadores se dá por meio do controle da subjetividade, e os instrumentos de avaliação de desempenho auxiliam nesse processo. O Dossiê Saúde Mental e Subjetividade, da Revista Brasileira de Saúde Ocupacional (RBSO), traz estudos que podem contribuir para a compreensão dessas formas de dominação. Esse é o caso do artigo A captura da subjetividade de bancários como tecnologia gerencial: estudo de um instrumento de avaliação de desempenho (vol. 49, 2024).

A pesquisa estuda o instrumento de avaliação de desempenho utilizado por um banco privado brasileiro para identificar a racionalidade subjacente a essas tecnologias. Assim aponta como esse tipo de sistema, com sua aparente neutralidade, quebra a solidariedade entre colegas e estabelece a competição, que divide os funcionários entre vencedores e fracassados.

O instrumento de avaliação de desempenho, utilizado até recentemente em um banco privado brasileiro, avalia metas quantitativas (dimensão objetiva), denominadas X, e a conformidade em relação aos comportamentos prescritos, Y, que são valorizados pela organização (dimensão subjetiva).

 

 

A análise mostrou que a estrutura dele proíbe de antemão que todos vençam e que ninguém seja derrotado. Isso porque, mesmo no cenário mais positivo permitido, no mínimo 5% dos trabalhadores devem ser classificados nos quadrantes de “performance baixa em X”, “performance baixa em Y” e “performance crítica”. Além disso, o instrumento de avaliação também exclui pelo menos 50% dos concorrentes de alcançar a classificação máxima.

Nesse contexto, os trabalhadores passam por “um constante e ininterrupto monitoramento de si e dos outros”. A pretensa neutralidade que esse tipo de instrumento apresenta, como se fosse regido exclusivamente por parâmetros matemáticos, faz com que o “sujeito ativo da dominação” seja “introjetado no próprio dominado” em vez de “estar atrelado a uma figura externa (o patrão/o capital)”.

“Tal situação faz com que o trabalhador não perceba que seu fracasso na avaliação de desempenho não decorre de insuficiências subjetivas, mas é causado por uma arquitetura objetiva estruturalmente excludente,” afirma o autor André Guerra, da Faculdade do Centro de Estudos da Família e do Indivíduo, de Porto Alegre (RS).

“Hoje, mais do que nunca, o poder se manifesta pelo controle da subjetividade. Alinhado à essa tendência de dominação, a sofisticação das técnicas de gestão é capaz de produzir sérios efeitos psicossociais. Ao mesmo tempo que incita os trabalhadores a estarem individualmente em um constante e ininterrupto monitoramento de si e dos outros, também fomenta um ambiente de concorrência generalizada,” conclui.

Para ler o artigo, acesse

GUERRA, A. A captura da subjetividade de bancários como tecnologia gerencial: estudo de um instrumento de avaliação de desempenho. Rev Bras Saúde Ocup, Dossiê Temático Saúde Mental e Subjetividade [online]. 2024, vol. 49, edsmsubj2 [Viewed 3 November 2025]. https://doi.org/10.1590/2317-6369/18422pt2024v49edsmsubj2. Available from: https://www.scielo.br/j/rbso/a/R6z9tYMXq5SCHmMtmL8C7dq/

Links externos

Revista Brasileira de Saúde Ocupacional – RBSO

Revista Brasileira de Saúde Ocupacional (Fundacentro)

Revista Brasileira de Saúde Ocupacional – X

 

Como citar este post [ISO 690/2010]:

REIMBERG, C.O. Avaliação de desempenho traz metas inatingíveis para bancários [online]. SciELO em Perspectiva | Press Releases, 2025 [viewed ]. Available from: https://pressreleases.scielo.org/blog/2025/11/03/avaliacao-de-desempenho-traz-metas-inatingiveis-para-bancarios/

 

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