Insetos comestíveis como fonte proteica para a alimentação humana e os desafios para o seu consumo

Fabiana Sabadini Rezende Niglio, Coordenadora de Comunicação do Brazilian Journal of Food Technology, Campinas, SP, Brasil. 

Silvia Pimentel Marconi Germer, Editora adjunta do Brazilian Journal of Food Technology, Campinas, SP, Brasil.

Logo do periódico Brazilian Journal of Food TechnologyO aumento da população mundial tem exigido um contínuo incremento da produção de alimentos, que, por sua vez, esbarra na crescente preocupação ambiental. Nesse contexto, em alinhamento à busca recente por fontes proteicas não convencionais, uma alternativa que surge é o uso de insetos comestíveis, tanto para a alimentação humana, como animal (Olivadese & Dindo, 2023). A matéria-prima é, no geral, rica em proteínas, ácidos graxos essenciais, vitaminas e minerais (Ketelings, et al., 2023). A criação comercial de insetos apresenta uma pegada ambiental menor em comparação às fontes convencionais de proteína, uma vez que com maior conversão proteica, gera menos resíduos, requer áreas inferiores e menor consumo de água.

Gafanhotos, grilos e larvas são espécies mais empregadas, sendo que alguns países já apresentam legislações regulamentando a produção e o consumo (Estados Unidos, Reino Unido, Canadá e Austrália). Os produtos disponíveis para o consumo humano são farinhas, extratos e hidrolisados proteicos, barras de proteína, massas, snacks, dentre outros. Os maiores desafios enfrentados pelo segmento são a segurança alimentar (química e microbiológica), a baixa aceitação, o regulatório e a economia de escala.

Atentos à tendência, pesquisadores da Universidad del Valle, e do Instituto de Educación Técnica Profesional de Roldanillo, ambos de Valle del Cauca, Colômbia, realizaram uma pesquisa com objetivo de analisar os fatores que influenciam a aceitação desses produtos junto a consumidores. Os resultados foram apresentados no artigo intitulado Acceptance of edible insects: a study in the Colombian context, publicado pelo Brazilian Journal of Food Technology (vol. 28, 2025).

 

Uma fotografia de uma porção de gafanhotos, servidos sobre uma folha verde, com palitos.

Imagem: Via Canva

 

O estudo foi realizado na região do Valle del Cauca (Colômbia), com aproximadamente 500 pessoas, de diferentes definições sexuais (47% mulheres, 48% homens, e 5% outros), ampla faixa de idades (18 a 60 anos), níveis educacionais e sociais. O questionário envolveu 39 perguntas, delineadas em 11 classes de variáveis: idade, nível educacional, poder aquisitivo, fobias alimentares, preferências por fontes proteicas, atitudes frente ao consumo de insetos, percepção dos benefícios, preocupação ambiental, preocupação quanto a saúde, valorização da nutrição dos alimentos, e ideologia política.

O estudo empregou a metodologia de Modelagem de Equações Estruturais (Hair Junior, et al., 2017). Na primeira etapa, o modelo foi avaliado por meio da análise fatorial confirmatória, validando as escalas e seus itens. A segunda etapa envolveu a avaliação da significância estatística. Essa metodologia permite, em modelos complexos, a análise simultânea das relações múltiplas entre as variáveis.

Os resultados indicaram que as atitudes em relação aos alimentos insect-based e a percepção dos benefícios podem estar positivamente relacionados com as intenções de consumo, enquanto a fobia alimentar, as preocupações com a saúde e a idade afetaram negativamente a aceitação. As variáveis como consciência ambiental, nível de escolaridade e estrato socioeconômico não apresentaram relações significativas no modelo obtido. Um resultado relevante é o fato de que os jovens apresentam maior disposição para o consumo, indicando uma oportunidade estratégica para os futuros lançamentos.

Segundo os autores os resultados mostraram que fatores psicológicos são a chave para a aceitação de alimentos formulados a partir de insetos, sugerindo que as estratégias de promoção devem focar na percepção dos benefícios e nas mudanças de atitude. As regulamentações técnicas e as campanhas educacionais, portanto, são fundamentais para a superação da rejeição. Entretanto, os autores advertem que contexto cultural deve ser considerado, e novas pesquisas podem ser necessárias, uma vez que mercados distintos podem apresentar resultados diferentes.

Para ler o artigo, acesse

OSORIO-ANDRADE, C., CANDELO-VIÁFARA, J.M. and ARANGO-PASTRANA, C. Acceptance of edible insects: a study in the Colombian context. Brazilian Journal of Food Technology [online]. 2025, vol 28, e2024105 [viewed 25 November 2025]. https://doi.org/10.1590/1981-6723.10524.  Available from: https://www.scielo.br/j/bjft/a/SNjx6jYSCcJnX4BLB47dnsG/

Referências

HAIR JUNIOR, J. F., et al. Mirror, mirror on the wall: A comparative evaluation of composite-based structural equation modeling methods. Journal of the Academy of Marketing Science [online]. 2017. vol. 45, no. 5, p. 616-632 [viewed 25 November 2025]. http://doi.org/10.1007/s11747-017-0517-x. Available from: https://link.springer.com/article/10.1007/s11747-017-0517-x

Ketelings, L., et al. Fake meat or meat with benefits? How Dutch consumers perceive health and nutritional value of plant-based meat alternatives. Appetite [online]. 2023, vol. 188, e106616. [viewed 25 November 2025] http://doi.org/10.1016/j.appet.2023.106616. https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0195666323001691?via%3Dihub

OLIVADESE, M., and DINDO M.L. Edible insects: A historical and cultural perspective on entomophagy with a focus on western societies. Insects [online]. 2023, vol. 14, no. 8, art. 690 [viewed 25 November 2025]. http://doi.org/10.3390/insects14080690. Available from: https://www.mdpi.com/2075-4450/14/8/690

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Como citar este post [ISO 690/2010]:

NIGLIO, F.S.R. and GERMER, S.P.M. Insetos comestíveis como fonte proteica para a alimentação humana e os desafios para o seu consumo [online]. SciELO em Perspectiva | Press Releases, 2025 [viewed ]. Available from: https://pressreleases.scielo.org/blog/2025/11/25/insetos-comestiveis-como-fonte-proteica-para-a-alimentacao-humana-e-os-desafios-para-o-seu-consumo/

 

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