Isopor vira aliado da sustentabilidade e uma alternativa de baixo custo para o setor de saúde

Maria Luiza De Grandi, jornalista, Ciência Rural, Santa Maria, RS, Brasil.

Luciano de Morais Pinto, Professor, Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Santa Maria, RS, Brasil

Logo do periódico Ciência RuralUm resíduo que normalmente causa problemas ambientais vem se tornando uma alternativa dentro das salas de aula. Pesquisadores da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), em parceria com a Universidade de São Paulo (USP), desenvolveram modelos anatômicos a partir de isopor descartado, oferecendo uma ferramenta ecológica, acessível e inovadora para o ensino de anatomia comparada.

A pesquisa Modelos anatômicos fabricados com resíduos de isopor como ferramenta ecológica de baixo custo para o ensino prático de anatomia comparada, publicada na revista Ciência Rural (vol. 55 no. 3, 2025), surgiu da necessidade de superar desafios comuns no ensino dessa disciplina: a escassez de cadáveres para estudo, os riscos à saúde pelo uso de Reagentes químicos tradicionalmente usados na conservação de peças biológicas e as questões éticas envolvidas na eutanásia de animais para fins didáticos. “Analisamos uma matéria prima alternativa que fosse ao mesmo tempo viável, sustentável e de baixo custo. O isopor, apesar de ser um grande problema ambiental quando descartado incorretamente, mostrou ter a textura e a densidade ideais para esculpir órgãos com alto nível de detalhe”, explica o pesquisador-orientador do estudo, Luciano de Morais Pinto.

O processo começa com a coleta de resíduos de isopor doados pela comunidade ou coletados em descartes industrial e doméstico. A partir de blocos devidamente preparados, os pesquisadores esculpem órgãos com cortadores e lixas, aplicam camadas de papel com cola para dar resistência e finalizam com resina e pintura. O resultado são protótipos resistentes, coloridos e fiéis às estruturas originais. Além de reproduzir órgãos em tamanho real, os modelos podem ser ampliados. Estruturas naturalmente pequenas, como dentes e ossículos auditivos, foram produzidas em escalas 15:1 e 30:1, facilitando a visualização de detalhes que normalmente passam despercebidos em aulas práticas.

 

Representação anatômica de um orgão humano.

Imagem: Acervo pessoal de Luciano Morais

 

Os modelos feitos de isopor se mostraram duráveis, realistas e muito mais baratos do que alternativas tradicionais, como peças de resina injetada ou impressões 3D. Isso amplia a possibilidade de uso em instituições com recursos limitados. “É a primeira vez que o resíduo de isopor é usado como matéria-prima principal na confecção de modelos anatômicos de animais. A inovação está justamente em unir educação, ética e sustentabilidade”, destaca o professor Luciano.

Os protótipos já podem ser usados em aulas de medicina veterinária, biologia e áreas afins, especialmente em locais onde o acesso a cadáveres é restrito. Também podem ser aproveitados em museus, exposições educativas e programas de conscientização ambiental. Além disso, a pesquisa contribui para dar um destino útil a um dos resíduos mais problemáticos para o meio ambiente. Apesar de 100% reciclável, o isopor raramente entra em cadeias de reciclagem devido ao baixo valor comercial e ao grande volume que ocupa nos aterros.

Embora a técnica tenha apresentado limitações em estruturas muito complexas, como órgãos multilobados e ossos com muitos entalhes, os pesquisadores afirmam que ajustes podem superar esses obstáculos. O próximo passo será testar a eficácia pedagógica dos protótipos diretamente com estudantes em sala de aula. “Transformar um poluente em ferramenta didática é dar novo sentido a um resíduo que causa tantos problemas ambientais”, resume o pesquisador. “Nossa proposta é mostrar que ensino de qualidade e responsabilidade ambiental podem caminhar juntos.” conclui.

Para ler o artigo, acesse

ROBERTS, J.V.S., et al. Modelos anatômicos fabricados com resíduos de isopor como ferramenta ecológica de baixo custo para o ensino prático de anatomia comparada. Ciência Rural [online]. 2025, vol. 55, no. 3, e20240282 [viewed 3 October 2025]. https://doi.org/10.1590/0103-8478cr20240282 Available from: https://www.scielo.br/j/cr/a/F36q5pC4kDJ6tQJ845Zwyvs/

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Como citar este post [ISO 690/2010]:

GRANDI, M.L., and PINTO, L.M., Isopor vira aliado da sustentabilidade e uma alternativa de baixo custo para o setor de saúde [online]. SciELO em Perspectiva | Press Releases, 2025 [viewed ]. Available from: https://pressreleases.scielo.org/blog/2025/10/03/isopor-vira-aliado-da-sustentabilidade-e-uma-alternativa-de-baixo-custo-para-o-setor-de-saude/

 

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