Karina Penariol Sanches, analista em Ciência e Tecnologia, jornalista da Fundacentro, São Paulo, SP, Brasil.
Degradação ambiental e da vida acompanham mudanças no trabalho, em uma relação intrínseca com a precarização social. Essa é a premissa do ensaio Saúde e bem viver alinhados com a sustentabilidade: contribuições da economia solidária brasileira, publicado no dossiê Desenvolvimento Sustentável e Trabalho (vol.50, 2025), da Revista Brasileira de Saúde Ocupacional (RBSO). A publicação reflete criticamente sobre os impactos do capitalismo no trabalho, na saúde e no meio ambiente e mostra a economia solidária como alternativa social transformadora ao valorizar e promover bem viver, saúde mental, segurança alimentar e justiça social.
Uma forma de resistir ao capitalismo, ao patriarcado e ao colonialismo é reconhecer outros modos de viver pautados pela vida e trabalho dignos, sustentáveis, política, econômica, social e culturalmente justos. Assim, sob a perspectiva da Psicologia Social do Trabalho, Andréia de Conto Garbin, da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP), Cris Fernández Andrada e José Agnaldo Gomes, ambos da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), analisam a experiência da rede Justa Trama. Com cerca de 700 pessoas, a maioria mulheres, organizados em empreendimentos de gestão coletiva baseados na cadeia produtiva do algodão agroecológico, reúne três cooperativas e três associações de quatro regiões do Brasil.
O estudo reforça que as relações autogestionárias de coletivos carregam consigo a forte ligação entre saúde e sustentabilidade ao proporcionar melhoria da renda e das condições de vida e trabalho das famílias. No cerne está a autonomia na tomada de decisões sem intervenção de gestão patronal, que possibilitou aos(às) trabalhadores(as) dar centralidade à vida em seus diversos aspectos. Essa característica contribuiu para promover ambientes e processos organizativos e produtivos flexíveis e saudáveis.
Entre os reflexos observados está a menor dependência econômica de pesticidas, adubos químicos e sementes modificadas, que resultou em menos adoecimento e contaminação. Adaptar o trabalho às necessidades dos(as) trabalhadores(as), alternando a jornada de trabalho em distintas etapas da vida, foi outro aspecto positivo, facilitando, entre outras coisas, o trabalho reprodutivo e de cuidados.
Esses são alguns dos elementos de maior flexibilização do processo produtivo próprios da autogestão que minimizam os efeitos insalubres das altas jornadas. Promovem maior bem viver pessoal e familiar, trabalho digno, saúde mental, sustentabilidade ambiental e justiça social. Para além dos benefícios econômicos, ambientais e de enfrentamento à precarização do trabalho, os pesquisadores evidenciam também a importância política da rede. A Justa Trama atua em fóruns locais e nacionais e desenvolve estratégias de combate à desigualdade, com iniciativas como bancos comunitários, creches, cooperativas e projetos culturais.
“A interlocução com mulheres trabalhadoras não produziu respostas ou soluções simples, mas perguntas e, talvez, melhor compreensão da complexidade da questão em foco, sem aquele desespero que insiste na negação de um outro mundo possível. Precisamos colocar a questão da sustentabilidade no trabalho no horizonte das transformações para uma sociedade mais justa”, concluem.
Para ler o artigo, acesse
GARBIN, A.C., ANDRADA C.F. and GOMES J.A. Saúde e bem viver alinhados com a sustentabilidade: contribuições da economia solidária brasileira. Rev Bras Saúde Ocup, Dossiê Desenvolvimento Sustentável e Trabalho [online]. 2025, vol. 50, eddsst3 [viewed 6 November 2025]. https://doi.org/10.1590/2317-6369/07724pt2025v50eddsst3. Available from: https://www.scielo.br/j/rbso/a/VXYbmHGssjgsXDvw3W8Qx8w/
Links externos
Revista Brasileira de Saúde Ocupacional – RBSO
Revista Brasileira de Saúde Ocupacional (Fundacentro)
Revista Brasileira de Saúde Ocupacional – X
Como citar este post [ISO 690/2010]:
















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