Como fotos do sorriso postadas nas redes sociais podem auxiliar na identificação de um cadáver?

Warney Pires Ferreira, Cirurgião-Dentista graduado pela Universidade Federal do Piauí (UFPI), Teresina, PI, Brasil.

Logo do periódico Revista Gaúcha de OdontologiaA identificação das vítimas de desastres em massa – como grandes acidentes naturais – ou de crimes brutais, costuma ser um processo complexo para os peritos criminais e odontolegistas. Isso acontece porque, na grande parte dos casos, os corpos, em sua maioria desfigurados, carbonizados ou putrefeitos, só podem ser identificados pelas técnicas de DNA e papiloscopia, que implicam alto custo e são tempo-dependentes.

Uma alternativa é a análise das arcadas dentárias, técnica que depende de familiares e amigos para o fornecimento da documentação odontológica do indivíduo a ser identificado, que nem sempre existe, limitando o processo.

Pensando nisso, o artigo intitulado Análise de fotos do sorriso postadas em redes sociais como alternativa para a identificação humana, publicado na Revista Gaúcha de Odontologia (vol. 71), buscou trazer uma alternativa de identificação humana rápida e de baixo custo, sem negligenciar a confiabilidade e reprodutibilidade. O estudo foi idealizado por uma equipe de pesquisadores composta por um formando em Odontologia, um professor universitário e um perito odontolegista, sendo realizado dentro das dependências da Universidade Federal do Piauí, durante todo o ano de 2020 e início de 2021.

Montagem com 12 fotos de arcadas dentárias e fundo branco.

Imagem: arquivo pessoal.

Para isso, alunos de graduação colaboraram voluntariamente como possíveis vítimas a serem identificadas. Os pesquisadores produziram fotos de suas arcadas dentárias (fotografias simuladas de um cadáver) e selecionaram, nas redes sociais, aquelas fotos que exibissem seus sorrisos e teriam sido produzidas em vida). Posteriormente, elas foram comparadas por alunos, professores e peritos odontolegistas na tentativa de gerar uma identificação positiva, simulando um confronto odontolegal.

Após avaliarem quatro das vítimas simuladas, dentro de um cenário de possíveis quarenta indivíduos a serem identificados, a técnica demonstrou boas porcentagens de acerto, mesmo para os grupos com menos experiência em identificação odontolegal.

Essa constatação é sustentada pelas taxas de sucesso de correlação positiva entre as fotos tiradas antes e após a morte simulada dos voluntários, onde o grupo dos alunos atingiu o máximo de 78%, o grupo dos professores de 88,9%, e o dos peritos odontolegistas de 100%. Tais índices demonstram que na prática, fotos do sorriso constantemente publicadas pelos usuários nas redes sociais tem potencial para serem utilizadas em metodologia alternativa nos processos de identificação, facilitando o trabalho de peritos atuantes em organizações como a Interpol (International Criminal Police Organization [Polícia Internacional]).

Todas as características individuais de cada pessoa, fatores externos do ambiente em que ela vive, e intervenções odontológicas, são fatores que, somados, transformam cada arcada dentária um conjunto único, tornando-a instrumento de identificação tão exclusivo e pessoal quanto a impressão digital.

O desafio segue na superação de limitações inerentes da técnica, tais como: a qualidade da imagem (que é comprimida ao ser enviada aos servidores das redes sociais), fator que pode influenciar na perda de definição; a ausência de um padrão desejável dos registros disponíveis; e o processo de edição de imagem prévio a postagem, fator que pode mascarar imperfeições do sorriso.

Referências

INTERPOL. Disaster victim identification. Fact sheet [online]. 2018 [viewed 27 July 2023]. Available from: https://www.interpol.int/How-we-work/Forensics/Disaster-Victim-Identification-DVI

PRAJAPATI, G., et al. Role of forensic odontology in the identification of victims of major mass disasters across the world: A systematic review. PLOS ONE [online]. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0199791. Available from: https://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0199791

SILVA, R.F., et al. Delineamento dental computadorizado das bordas incisais, em fotografias de sorriso, com finalidade pericial. RBOL [online]. 2016, vol. 3, no. 2, pp. 74-82 [viewed 27 July 2023]. https://doi.org/10.21117/rbol.v3i2.7. Available from: https://portalabol.com.br/rbol/index.php/RBOL/article/view/55

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Para ler o artigo, acesse

FERREIRA, W.P., LAGES, V.A. and PRADO JÚNIOR, R.R. Análise de fotos do sorriso postadas em redes sociais como alternativa para a identificação humana. Rev Gaúch. Odontol. [online]. 2023, vol. 71, e20230021 [viewed 27 July 2023]. https://doi.org/10.1590/1981-86372023002120210099. Available from: https://www.scielo.br/j/rgo/a/h5QjCqQssHg7xgfczVVZv8g/

Links externos

Revista Gaúcha de Odontologia – RGO: https://www.scielo.br/j/rgo/

Warney Pires Ferreira – Lattes: http://lattes.cnpq.br/4566729020052651

 

Como citar este post [ISO 690/2010]:

FERREIRA, W.P. Como fotos do sorriso postadas nas redes sociais podem auxiliar na identificação de um cadáver? [online]. SciELO em Perspectiva | Press Releases, 2023 [viewed ]. Available from: https://pressreleases.scielo.org/blog/2023/07/27/como-fotos-do-sorriso-postadas-nas-redes-sociais-podem-auxiliar-na-identificacao-de-um-cadaver/

 

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