Ronaldo Angelini, Editor da Acta Limnologica Brasiliensia e Professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Natal, RN, Brasil.
Restaurar um ecossistema é uma atividade difícil, que exige conhecimento das espécies e processos na condição pré-distúrbio, além do entendimento da paisagem no entorno do ambiente impactado, pois os ecossistemas não estão isolados. Além disso, testar uma teoria ainda incipiente (teoria da restauração) na prática é bastante desafiador para cientistas e gestores ambientais.
Em uma pesquisa conduzida entre 1988 e 2022, pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) investigaram os impactos dos rejeitos de mineração de bauxita (usada para extrair alumínio) no Lago Batata, localizado às margens do Rio Trombetas no Pará. O objetivo principal desta pesquisa ecológica de longa duração era restaurar 30% da área do lago que foi soterrada pelos rejeitos desta atividade mineradora.
No trabalho, Do vírus à floresta do igapó: uma revisão sistemática de 35 anos de monitoramento de um Lago Amazônico, publicado recentemente na Acta Limnologica Brasiliensia, os pesquisadores revisaram sistematicamente 78 artigos científicos e 21 capítulos de livros, com base em dados e informações deste local. Estes trabalhos eram descritivos na primeira década do estudo (até 2000), depois passaram a explicar as relações entre variáveis ambientais e organismos (até 2010), e, mais recentemente, são trabalhos baseados em hipóteses específicas, como o papel de algumas plantas e invertebrados na reciclagem de nutrientes e a capacidade de dispersão de sementes por peixes. Estas espécies são verdadeiras “engenheiras ambientais” que ajudam a restauração dos processos naturais e, consequentemente, do ecossistema.
Por fim, o trabalho tem o mérito de mostrar que esta pesquisa de longa duração é um exemplo de monitoramento e restauração para outras áreas que têm impactos similares de mineração, especialmente na Amazônia, que possui forte sazonalidade do rio e influência das áreas ao redor. Por conta da pesquisa, e dos “engenheiros da natureza”, boa parte da área impactada já está restaurada e a teoria ecológica se fez prática para a conservação e preservação ambiental.
Para ler o artigo, acesse
CARDOSO, S.J. et al. From virus to Igapó Forest: a systematic review of 35 years monitoring of an Amazonian Lake impacted by bauxite tailings (Batata Lake). Acta Limnol. Bras. [online]. 2023, vol. 35, e2. [viewed 23 August 2023]. DOI: https://doi.org/10.1590/S2179-975X5922. Available from: https://www.scielo.br/j/alb/a/PWvm7CZ6rdytr4ScL9DMd5K/abstract/?lang=en#
Semana Especial Acta Limnologica Brasiliensia (ALB) 2023
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- O serviço fundamental, mas quase invisível, das zonas ripárias
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- O reservatório “da serpente de boca grande” gera energia, fornece água e lazer, além de evitar problemas à montante
- Um estranho fazendo seus próprios ninhos
- Um pedaço de plástico incomoda muita gente, milhões de pedacinhos incomodam muito mais…
Links Externos
Acta Limnologica Brasiliensia – ALB: https://www.scielo.br/j/alb/
Site oficial da Acta Limnologica Brasiliensia: https://www.actalb.org/
Acta Limnologica Brasiliensia – Twitter: https://twitter.com/limnologica
BOZELLI, R. L., ESTEVES, F. A. AND ROLAND, F. (Eds.). Lago Batata: Impacto e recuperação de um ecossistema amazônico. Rio de Janeiro: Instituto de Biologia, UFRJ; Sociedade Brasileira de Limnologia [online]. 2000 [viewed 23 August 2023]. Available from: https://koha.inpa.gov.br/cgi-bin/koha/opac-detail.pl?biblionumber=14543
Entrevista com o Prof. Chico Esteves: https://youtu.be/uAE4tVwTPUQ
Autores do estudo
Simone Jaqueline Cardoso (Univ. Fed. de Juiz de Fora, MG)
Reinaldo Luiz Bozelli (Univ. Fed. do Rio de Janeiro, RJ).
Fabio Roland (Univ. Fed. de Juiz de Fora, MG).
Francisco de Assis Esteves (Univ. Fed. do Rio de Janeiro, RJ).
Marcos Paulo Figueiredo Barros (Univ. Fed. do Rio de Janeiro, RJ).
Érica Pellegrini Caramaschi (Univ. Fed. do Rio de Janeiro, RJ).
João José Fonseca Leal (Inst. Fed. de Ed, Ciência e Tec. do RJ – IFRJ).
Nathália da Silva Resende (Univ. Fed. de Juiz de Fora, MG).
Enoque Gonçalves Ribeiro (Univ. Fed. do Rio de Janeiro, RJ).
Fabio Rubio Scarano (Univ. Fed. do Rio de Janeiro, RJ).
Vera Lúcia de Moraes Huszar.
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