Por Vanessa Brauer, Assessora de Imprensa, Sociedade Brasileira de Cardiologia, São Paulo, SP, Brasil
Pular carnaval – seja no sambódromo, nos bailes fechados ou nos tradicionais blocos de rua – exige muito do coração. Durante as sessões de samba, os indivíduos podem atingir entre 60 e 90% da frequência cardíaca máxima prevista para a idade, em 86% do tempo. E, geralmente, essa atividade intensa está associada ao consumo de álcool, energéticos e/ou drogas, uma combinação perigosa, como mostra o cardiologista Claudio Tinoco Mesquita no artigo “Carnival and energy drinks: a dangerous combination to the heart”, publicado na International Journal of Cardiovascular Sciences – IJCS (vol. 32, no.2), da Sociedade Brasileira de Cardiologia.
“O consumo de álcool, mesmo em doses consideradas de leve a moderada (sete doses por semana ou mais), aumenta a incidência de Fibrilação Atrial, por exemplo”, afirma Mesquita. A associação com o uso recreativo da maconha é ainda mais prejudicial. Estudo norte-americano observou que 2,7% dos usuários de maconha recreativa desenvolveram arritmia, com tendência crescente de 2010 até 2014, e que a Fibrilação Atrial foi o subtipo mais comum entre usuários de maconha hospitalizados (DESAI, et al., 2018).
Já as bebidas energéticas — que apresentam quantidades muito altas de cafeína e aditivos como taurina e adenosina, já associados a relatos de arritmias atriais e ventriculares – estão relacionados a uma sobrecarga hemodinâmica significativa. A ingestão de uma lata (355 mL) já é suficiente para aumentar a carga de trabalho do coração, evidenciada por pressão sanguínea elevada, frequência cardíaca e débito cardíaco. “A ingestão de energéticos tem sido associada a arritmias mesmo em pacientes com corações estruturalmente normais. E, embora não haja um limiar claramente definido para o uso de energéticos, a Sociedade Internacional de Nutrição Esportiva recomenda que pacientes com condições cardiovasculares pré-existentes, que estão tomando medicamentos e que podem ser afetados pela cafeína e outros estimulantes, evitem a bebida. A entidade alerta também que o consumo de mais de um energético por dia, mesmo em indivíduos saudáveis, pode ser prejudicial”, alerta Claudio Tinoco Mesquita. O cardiologista lembra que celebrar o carnaval é fácil, divertido e barato. Mas os riscos potenciais de combinar energético e álcool ou drogas ilícitas são altos. “Por isso, mesmo que sozinho, o energético deve ser ingerido com moderação. Uma das melhores coisas da vida são boas lembranças e ter uma complicação cardíaca durante o feriado é uma daquelas que ninguém gostaria de ter”, finaliza.
Referência
DESAI, R., et al. Burden of arrhythmia in recreational marijuana users. Int J Cardiol [online]. 2018, no. 264, pp. 91-92, ISSN: 0914-5087 [viewed 19 March 2019]. DOI: 10.1016/j.ijcard.2018.03.113. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/29642998
Para ler o artigo, acesse
MESQUITA, C.T. Carnival and energy drinks: a dangerous combination to the heart. Int. J. Cardiovasc. Sci. [online]. 2019, vol. 32, no. 2, e-ISSN: 2359-5647 [viewed 19 March 2019]. DOI: 10.5935/2359-4802.20190015. Available from: http://ref.scielo.org/w24grk
Link externo
International Journal of Cardiovascular Sciences – IJCS: <www.scielo.br/ijcs>
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