Cuidadoras E Cuidadores: Trabalhadores Invisíveis

Maria Cecília de Souza Minayo, Editora-chefe da Revista Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.

Luiza Gualhano, Editora assistente da Revista Ciência & Saúde, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.

Logo do periódico Ciência & Saúde ColetivaEste texto resenha o artigo “Vivências subjetivas de familiares que cuidam de idosos dependentes”, escrito por Gutierrez et al. (2021) que trata da forma como cuidadores familiares de idosos dependentes vivenciam subjetivamente sua atividade. Reconhecidamente são elas e eles uma categoria de trabalhadores muito pouco valorizada no Brasil e no mundo do ponto de vista legal, econômico e social.  O substantivo “cuidador” precisa aqui e sempre ser ressaltado no feminino, pois mais de 90% dos que assistem aos idosos dependentes no país e internacionalmente são mulheres. São elas que cumprem a sublime e difícil missão de cuidar, a mais importante da vida humana, segundo Heidegger (1989), embora tão invisível como mostra de forma incisiva o relatório da Oxfam (2020) apresentado no Fórum Econômico Mundial de 2020.

No artigo, Denise Gutierrez e colegas (2021) apresentam algumas classificações importantes das vivências subjetivas desse grupo de pessoas imprescindíveis. A literatura científica nacional e internacional e os dados de uma pesquisa realizada no país (Minayo; Figueiredo, 2021)  mostram que há pelo menos dois grupos emocionalmente  diferentes de cuidadores e cuidadoras familiares: (1) os que conseguem manter uma perspectiva positiva sobre o cuidado e desfrutar sentimentos de gratidão pelo familiar a quem assistem, tratando sua tarefa como uma missão existencial; e (2) os que experimentam altos níveis de estresse, de desgaste pessoal, de vivências emocionais negativas e de dinâmicas relacionais disfuncionais.

Imagem: domínio público.

Na sua pesquisa empírica, Gutierrez et al (2021) esmiuçaram as duas tipologias já conhecidas e identificaram pelo menos quatro tipos: (1) cuidadores que inibem suas emoções e sentimentos, particularmente de raiva, irritação, perda de paciência e desejos de abandonar a dura tarefa de cuidar. Quando isso acontece, quem cuida costuma experimentar fortes sentimentos de culpa e autocensura, com aumento de emoções destrutivas. (2) Cuidadores que vivenciam processos de simbiose e de dependência emocional. A pessoa passa a gravitar toda a sua vida em torno do idoso que, por sua vez, costuma regredir emocionalmente, tornando-se demandante de maiores e de cada vez mais frequentes cuidados.  (3) Cuidadores que renunciam a seus projetos de vida profissional, de estudos, de viagens e de socialização. Essas pessoas ressaltam suas perdas financeiras (por deixar seu emprego), sociais e simbólicas e o descuido de si, a favor do cuidado do idoso dependente. Muitas se tornam ressentidas. (4) Cuidadores que encontram contentamento no cuidado contínuo e mesmo desgastante. Apesar de todas as dificuldades, limites e empecilhos, os sentimentos de amor, carinho e gratidão predominam e tornam a tarefa de cuidar mais leve e vivenciada de forma positiva, pelo reconhecimento do quanto o familiar idoso lhes proporcionou na vida.

Este artigo faz parte de uma longa pesquisa qualitativa que juntou investigadores de oito centros universitários e redundou em 12 outros textos, todos compondo uma edição temática da Ciência & Saúde Coletiva (V. 26, n.1), além de um manual acessível ao público, contendo a síntese da proposta, a metodologia e as técnicas de trabalho. Tal instrumento possibilita a replicação do trabalho em outros contextos. (https://doi.org/10.48331/scielodata.8NEDAK). E o estudo está sintetizado num sumário executivo que, também está em acesso aberto no site do ReseachGate em: technical report: DOI: 10.13140/RG.2.2.21005.77284

Referências

Heidegger, M. Ser e tempo. Petrópolis: Editora Vozes; 1989.

Minayo, M. C. S. et al. “Manual de Pesquisa Estudo Situacional dos Idosos Dependentes que residem com suas Famílias”, https://doi.org/10.48331/scielodata.8NEDAK, SciELO Data, V1

Minayo, M. C. S. et al. Cuidado e Cuidadores. Sumário executivo da pesquisa: Estudo situacional sobre idosos dependentes e seus cuidadores familiares. Technical Report [online]. 2020 [viewed 19 February 2021].  https://doi.org/10.13140/RG.2.2.21005.77284. Available from: https://www.researchgate.net/publication/347357211_CUIDADO_E_CUIDADORES

Relatório sobre nós e a desigualdade “tempo de cuidar”. Oxfam. 2020 [viewed 19 February 2021]. Available from: https://oxfam.org.br/justica-social-e-economica/forum-economico-de-davos/tempo-de-cuidar/

Para ler o artigo, acesse

Gutierrez, D. M. D. et al. Vivências subjetivas de familiares que cuidam de idosos dependentes. Ciênc. Saúde Coletiva [online]. 2021, vol. 26, no. 01, pp. 47-56  [viewed 19 February 2021]. https://doi.org/10.1590/1413-81232020261.30402020. Available from: http://ref.scielo.org/w5rxvp

Links Externos

Ciência & Saúde Coletiva – CSC: http://www.scielo.br/csc

Facebook Ciência & Saúde Coletiva https://www.facebook.com/revistacienciaesaudecoletiva/

Instagram Ciência & Saúde Coletiva: @revistacienciaesaudecoletiva

Para ler a edição temática completa acesse: http://ref.scielo.org/8y4wzb

Site Ciência & Saúde Coletiva: http://www.cienciaesaudecoletiva.com.br

Twitter Ciência & Saúde Coletiva: https://twitter.com/RevistaCSC

 

Como citar este post [ISO 690/2010]:

MINAYO, M. C. S. and GUALHANO, L. Cuidadoras E Cuidadores: Trabalhadores Invisíveis [online]. SciELO em Perspectiva | Press Releases, 2021 [viewed ]. Available from: https://pressreleases.scielo.org/blog/2021/02/19/cuidadoras-e-cuidadores-trabalhadores-invisiveis/

 

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *

Post Navigation