Maria Cecília de Souza Minayo, Editora-chefe da Revista Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
Luiza Gualhano, Editora assistente da Revista Ciência & Saúde, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
Neyson Pinheiro Freire, Editor de Comunicação e Divulgação Científica da Revista Ciência & Saúde, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
Criada em 1996, Ciência & Saúde Coletiva entrou no seu 27º ano de publicação neste ano de 2022, tornando-se um dos mais importantes periódicos brasileiros da área da saúde. A Revista pertence à Abrasco (Associação Brasileira de Saúde Coletiva) e sua missão é publicar debates, análises e resultados de investigações sobre temas considerados relevantes para o SUS.
Atualmente, a classificação da Revista no Qualis Capes é A. Recentemente, ultrapassou sua anterior classificação no Journal Citation Reports (JCR) que avalia fator de impacto, atingindo 1.971 pontos. E, por cinco anos seguidos, mantém-se em primeiro lugar no ranking do Google Scholar entre todos os periódicos do país de todas as áreas.
Nesta Semana Especial da qual a Ciência & Saúde Coletiva participa, destaca-se a edição temática sobre “Diversidade e Saúde Coletiva” de outubro, composta por 18 artigos temáticos que focalizam as questões principais que marcam a pluralidade da sociedade brasileira quanto à raça/cor, situação de grupos específicos como os LGBTQI+, saúde dos portadores de deficiência e outros. Como ressaltam Gomes, Minayo e Silva (2022) no editorial, todos os membros de uma mesma sociedade, ainda que diferentes, almejam a saúde como um bem coletivo. Esse pertencimento ao todo, mas com respeito às diferenças, enriquece a coletividade e ajuda a definir o caráter das instituições.
Ainda que os subtemas sejam abrangentes, dois deles se destacam; diversidade de gênero e raça/cor. Eis a seguir um pequeno resumo sobre os assuntos tratados.
Sobre a diversidade de gênero, Machin et al. (2022) discutem essa questão a partir da sua incorporação na formação dos profissionais de saúde pela análise das Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN), de dois cursos de graduação na área da saúde no Brasil: Medicina e Psicologia. Gomes (2022) trata das agendas reivindicadas por representantes de grupos homossexuais, voltadas para a atenção integral à saúde de gays e lésbicas. Miskolci e colegas (2022) também refletem sobre os desafios da atenção à saúde de pessoas lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais, intersexuais e outras minorias sexuais e de gênero no cenário brasileiro atual.
Ferreira e Nascimento (2022) produzem memórias sobre os percursos de construção de políticas de saúde para lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais (LGBT) no Brasil, a partir da noção de política sexual. Domene et al. (2022) fazem um mapeamento e caracterizam a produção científica brasileira sobre a saúde da população LGBT. Milanez et al. (2022) analisam os sentidos atribuídos por enfermeiras da Atenção Básica às práticas de cuidado em saúde das lésbicas. Ribeiro e colegas (2022) mostram resultados de uma pesquisa sobre as estratégias, expectativas e desejos de 28 homens transexuais na construção de sua masculinidade e reconstrução dos seus corpos através da hormonização cruzada.
Calazans e Facchini (2022) analisam a relação entre diversidade e saúde pública ao abordar tensões que envolvem classificações e reconhecimento no campo das políticas de HIV/aids. O artigo de Santos et al (2022) objetiva compreender a dinâmica das redes de pares virtuais e presenciais entre os homens que fazem sexo com homens (HSH) para a decisão de usar a profilaxia pré-exposição ao HIV PrEP, sua revelação e publicização.
Em relação à raça/cor, Batista et al. (2022) fazem uma revisão de escopo da produção científica brasileira sobre a saúde da população negra. Em ensaio crítico, Anunciação e colegas (2022) analisam a importância da ampliação do debate e da produção do conhecimento sobre a saúde da mesma população. Geraldo et al. (2022), descrevem e analisam a implementação da coleta do quesito raça/cor pelos profissionais responsáveis pelo registro dos pacientes num hospital universitário de São Paulo.
Lessa e colegas (2022), caracterizam as mulheres que realizaram o pré-natal no Brasil segundo raça/cor e variáveis sociodemográficas e verificam associação entre os indicadores do cuidado no pré-natal e a desigualdade vivenciada pelas mulheres negras. Borret (2022) reflete sobre a produção de cuidado em saúde no contexto brasileiro, considerando o racismo estrutural e os efeitos do mito da democracia racial na centralidade da produção de cuidado.
Moreira (2022) trabalha sobre as configurações da parentalidade atípica no campo da deficiência e da cronicidade dos agravos à saúde. Em outro artigo, a mesma autora e colegas também ressaltam o capacitismo como uma gramática que sustenta diversos duplos e hierarquiza e discrimina pessoas com deficiência, a partir da violação de seus direitos humanos, sociais e de saúde (MOREIRA et al., 2002). Deslandes e colegas (2022) analisam as moralidades vigentes, os modos de gestão das emoções e os enquadramentos do corpo na afirmação de autonomia e diversidade por meio do estudo dos discursos de jovens que tiveram seus conteúdos íntimos disseminados, sem consentimento, pela internet.
Ciência & Saúde Coletiva atualmente funciona apenas online e publica número temáticos impressos apenas quando os organizadores desejam e financiam a impressão. A partir de 2021, por decisão colegiada, cobra-se uma taxa de submissão de artigos, com a finalidade subsidiar os custos da Revista, que conta também com apoio da Fiocruz, Capes, Faperj, OPAS e do próprio SciELO. A divulgação de conteúdos, além dos veículos convencionais, é feita também por meio das redes sociais com postagens regulares, e pelo blog ScieELO em Perspectiva com Press Releases mensais. A média de artigos traduzidos para o inglês e em inglês está em 79%. Em consonância com a política de ciência aberta, a Revista incentiva a submissão de artigos no SciELO Preprints e o depósito de dados de pesquisa no repositório SciELO Data.
Finalizando, nesses 27 anos, foram vencidos incontáveis desafios, mas há muito a melhorar e a trilhar. É com gratidão que Ciência & Saúde Coletiva celebra todas as conquistas e agradece a todas e todos que contribuíram para elas, torcendo e acreditando numa Ciência em sintonia com a Sociedade e a favor do SUS!
Assista ao vídeo de abertura que traz um pouco das origens do periódico.
Referências
ANUNCIAÇÃO, D et al. (Des)caminhos na garantia da saúde da população negra e no enfrentamento ao racismo no Brasil. Ciência & Saúde Coletiva [online]. 2022, vol. 27, no. 10. pp. 3861-3870 [viewed 3 October 2022]. https://doi.org/10.1590/1413-812320222710.08212022. Available from: https://www.scielo.br/j/csc/a/Lqd6jsjQByrvCVyxWCxkqjN/.
BATISTA, L.E. et al. Produção científica brasileira sobre saúde da população negra: revisão de escopo rápida. Ciência & Saúde Coletiva [online]. 2022, vol. 27, no. 10, pp. 3849-3860 [viewed 3 October 2022]. https://doi.org/10.1590/1413-812320222710.07782022. Available from: https://www.scielo.br/j/csc/a/f5t9bY35ZxwRpLz9c7RTMpc/abstract/?lang=pt
BORRET, R.H. E se Dona Violeta fosse uma mulher negra? Reflexões a partir de “O cuidado, os modos de ser (do) humano e as práticas de saúde”. Ciência & Saúde Coletiva [online]. 2022, vol. 27, no. 10, pp. 3969-3973 [viewed 3 October 2022]. https://doi.org/10.1590/1413-812320222710.22452021. Available from: https://www.scielo.br/j/csc/a/CpsWrwfZV436MhRQQcgqHWd/abstract/?lang=pt.
CALAZANS, G and FACCHINI, R. “Mas a categoria de exposição também tem que respeitar a identidade”: HSH, classificações e disputas na política de Aids. Ciência & Saúde Coletiva [online]. 2022, vol. 27, no. 10, pp. 3913-3922 [viewed 3 October 2022]. https://doi.org/10.1590/1413-812320222710.08142022. Available from: https://www.scielo.br/j/csc/a/JGytddmsgxFwVNq5RsnqGrw/abstract/?lang=pt.
DESLANDES, S.F et al. Vazamento de Nudes: da moralização e violência generificada ao empoderamento. Ciência & Saúde Coletiva [online]. 2022, vol. 27, no. 10, pp. 3959-3968 [viewed 3 October 2022]. https://doi.org/10.1590/1413-812320222710.07112022. Available from: https://www.scielo.br/j/csc/a/Fp9zrh6C64Y4DLpx5TdvL8b/abstract/?lang=pt
DOMENE, F.M et al. Saúde da população LGBTQIA+: revisão de escopo rápida da produção científica brasileira. Ciência & Saúde Coletiva [online]. 2022, vol. 27, no. 10, pp. 3835-3848 [viewed 3 October 2022]. https://doi.org/10.1590/1413-812320222710.07122022. Available from: https://www.scielo.br/j/csc/a/LQDJPWqyCjTsrLLXZY8PZzN/abstract/?lang=pt.
FERREIRA, B.O. e NASCIMENTO, M. A construção de políticas de saúde para as populações LGBT no Brasil: perspectivas históricas e desafios contemporâneos. Ciência & Saúde Coletiva [online]. 2022, vol. 27, no. 10, pp. 3825-3834 [viewed 3 October 2022]. https://doi.org/10.1590/1413-812320222710.06422022. Available from: https://www.scielo.br/j/csc/a/kKYtxMMmQnCrCSvfbrMnkDc/.
GERALDO, R.M. et al. Preenchimento do quesito raça/cor na identificação dos pacientes: aspectos da implementação em um hospital universitário. Ciência & Saúde Coletiva [online]. 2022, vol. 27, no. 10, pp. 3871-3880 [viewed 3 October 2022]. https://doi.org/10.1590/1413-812320222710.08822022. Available from: https://www.scielo.br/j/csc/a/DVPvS3wkcRFQx3Mcfs9m85H/.
GOMES, R. Agendas de saúde voltadas para gays e lésbicas. Ciência & Saúde Coletiva [online]. 2022, vol. 27, no. 10, pp. 3807-3814 [viewed 3 October 2022]. https://doi.org/10.1590/1413-812320222710.23792021. Available from: https://www.scielo.br/j/csc/a/q5N67D8CRT7mLwjSgy9MKsN/.
GOMES, R., MINAYO, M.C.S., and DA SILVA, A.A.M. Diversidade, unidade e saúde coletiva. Ciência & Saúde Coletiva [online]. 2022, vol. 27, no. 10, pp. 3794, [viewed 3 October 2022]. https://doi.org/10.1590/1413-81232027279.08472022EN. Available from: https://www.scielo.br/j/csc/a/NWzrXQbtJbjhX5fQjxq7syM/?lang=en.
LESSA, M.S.A. et al. Pré-natal da mulher brasileira: desigualdades raciais e suas implicações para o cuidado. Ciência & Saúde Coletiva [online]. 2022, vol. 27, no. 10, pp. 3881-3890 [viewed 3 October 2022]. https://doi.org/10.1590/1413-812320222710.01282022. Available from: https://www.scielo.br/j/csc/a/twSzJkjbDCRB9xdT3HRVrdv/.
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MILANEZ, L.S et al. Saúde de lésbicas: experiências do cuidado das enfermeiras da atenção básica. Ciência & Saúde Coletiva [online]. 2022, vol. 27, no. 10, pp. 3891-3900 [viewed 3 October 2022]. https://doi.org/10.1590/1413-812320222710.07332022. Available from: https://www.scielo.br/j/csc/a/LQDJPWqyCjTsrLLXZY8PZzN/abstract/?lang=pt.
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RIBEIRO, C.R et al. Masculinidades em construção, corpos em (re)construção: desejos, contradições e ambiguidades de homens trans no processo transexualizador. Ciência & Saúde Coletiva [online]. 2022, vol. 27, no. 10, pp. 3901-3911 [viewed 3 October 2022]. https://doi.org/10.1590/1413-812320222710.07732022. Available from: https://www.scielo.br/j/csc/a/CJCLr4GXD7Z4s7QfjBxBbxk/abstract/?lang=pt.
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Lins externos
Para ler a edição temática completa acesse: https://www.scielo.br/j/csc/i/2022.v27n10/
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