Plantio de árvores em pastagens degradadas pode ajudar na recuperação do solo

Maria Luiza De Grandi, jornalista da revista Ciência Rural. Santa Maria, RS, Brasil.

Emanuela Forestieri da Gama-Rodrigues, Professora Associada da Universidade Estadual do Norte Fluminense, Campos dos Goytacazes, RJ, Brasil.

Logo do periódico Ciência RuralA Mata Atlântica abrange uma área de 100 a 120 milhões de hectares, com apenas 12,5% de suas florestas originais. No estado do Rio de Janeiro, devido ao cultivo intensivo de cana-de-açúcar, os índices de florestas originais são ainda menores. Após o declínio destas culturas, as áreas de cultivo foram substituídas por pastagens que, quando afetadas pela degradação, podem ser recuperadas por meio do plantio de árvores – uma alternativa viável para resgatar a composição de sistemas agroflorestais.

Em recente estudo, pesquisadores do Instituto Federal Goiano-Campus Morrinhos (IF Goiano), em parceria com pesquisadores da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (UENF) e Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), avaliaram os níveis de labilidade do carbono orgânico do solo após a conversão de pastagem em árvores leguminosas e a influência de profundidade do solo na labilidade do carbono. Os resultados foram publicados no artigo Frações oxidáveis do carbono em solos sob leguminosas florestais fixadoras de nitrogênio em pastagens degradadas, na Ciência Rural (vol. 52, no. 12).

A labilidade do C está relacionada à acessibilidade dos compostos orgânicos pela microbiota do solo. Dessa forma, o C lábil é composto que apresentam rápida taxa de ciclagem e, portanto, mais facilmente mineralizados pelos microrganismos. Ao contrário, o C recalcitrante é aquele que apresenta baixa taxa de ciclagem. Para alcançar os resultados, os pesquisadores utilizaram a técnica de fracionamento químico de carbono (C) por uma gradiente crescente de oxidação. As amostras foram coletadas em um experimento na área da fazenda Carrapeta, Conceição de Macabú, no estado do Rio de Janeiro. O estudo foi realizado com uma pastagem não adubada e revegetada com plantações de árvores das leguminosas Acacia auriculiformis A. Cunn. ex Benth., Mimosa caesalpiniifolia Benth. e Inga edulis Mart. Ambas eram plantações com 13 anos de idade.

Foto de um homem em um laboratório. Ele está diante de uma mesa com um equipamento e uma grade com vários tubos. Ele segura um dos tubos e utiliza uma ferramenta dentro do recipiente.

Imagem: Emanuela Forestieri da Gama-Rodrigues.

Os principais resultados encontrados na pesquisa mostram que a conversão de pastagens degradadas em leguminosas florestais e a profundidade do solo promoveram mudanças na composição química do C. “Por meio dos níveis de labilidade do C é possível inferir se o C presente num dado sistema de manejo está mais acessível a microbiota do solo e, portanto, poderá ser liberado na forma de CO2 ou se está numa forma mais estável e, assim, poderá ser preservado por mais tempo no solo”, explica a pesquisadora Emanuela Forestieri Gama-Rodrigues.

A pesquisa traz inovações em relação à outras pesquisas da área, como a possibilidade de se estudar o C orgânico em seus diferentes níveis de labilidade. “Quando a variação no teor de matéria orgânica do solo é baseada apenas no teor de C orgânico do solo (quantificação do C orgânico do solo pelo método da oxidação úmida com apenas uma única concentração de H2SO4), as mudanças decorrentes do uso da terra e de técnicas de manejo podem não ser detectáveis, enquanto que a resposta das frações mais ativa podem ocorrer muito mais rapidamente”, acrescenta Gama-Rodrigues.

Na prática, por meio dos níveis de labilidade do C é possível inferir se o C presente num dado sistema de manejo está mais acessível a microbiota do solo e, portanto, poderá ser liberado na forma de CO2 ou se está numa forma mais estável e, assim, poderá ser preservado por mais tempo no solo. “A labilidade é importante no contexto do nosso artigo, pois mostra a influência do litter produzido por diferentes coberturas vegetais na formação de compostos de C de diferentes composições químicas.”, conclui Emanuela.

Referências

BLAIR, G.J., et al. Soil carbon fractions based on their degree of oxidation, and the development of a carbon management index for agricultural systems. Australian Journal of Soil Research [online]. 1995, vol. 46, pp. 1459-1466 [viewed 25 April 2023]. https://doi.org/10.1071/AR9951459. Available from: https://www.publish.csiro.au/cp/AR9951459

Para ler o artigo, acesse

FAUSTINO, L.L., et al. Frações oxidáveis do carbono em solos sob leguminosas florestais fixadoras de nitrogênio em pastagens degradadas. Cienc. Rural [online]. 2022, vol. 52, no. 12, e20210488 [viewed 25 April 2023]. https://doi.org/10.1590/0103-8478cr20210488. Available from: https://www.scielo.br/j/cr/a/RcgbDYz4WDZxstk8DZRhrSm/

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GRANDI, M.L. and GAMA-RODRIGUES, E.F. Plantio de árvores em pastagens degradadas pode ajudar na recuperação do solo [online]. SciELO em Perspectiva | Press Releases, 2023 [viewed ]. Available from: https://pressreleases.scielo.org/blog/2023/04/25/plantio-de-arvores-em-pastagens-degradadas-pode-ajudar-na-recuperacao-do-solo/

 

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