Ronaldo Angelini, Editor da Acta Limnologica Brasiliensia e Professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Natal, RN, Brasil.
Muitos impactos humanos sobre os ecossistemas aquáticos são bastante evidentes, como a construção de uma barragem que transforma o rio em um lago, o despejo de esgoto que causa mau cheiro, ou a erosão que faz com que o rio fique mais raso. Entretanto, existem impactos menos óbvios, como a introdução de uma espécie exótica que pode fazer desaparecer espécies nativas de um rio ou lago. Como saber se a espécie exótica está tendo sucesso no ambiente em que foi introduzida?
Foi pensando nisto que pesquisadores do Instituto Meros do Brasil e da Universidade Federal do Paraná (UFPR) avaliaram a capacidade reprodutiva do black-bass (Micropterus salmoide), uma espécie de peixe predadora nativa dos EUA e México que já foi introduzida em mais de 50 países, pois é, como o seu primo tucunaré, boa de briga na pesca esportiva.
Nesta pesquisa, Reprodução do black-bass invasor Micropterus salmoides (Lacepède, 1802) em um reservatório neotropical, com sugestões para manejo e controle, os cientistas coletaram durante um ano, no reservatório de Passaúna (perto de Curitiba, PR), mais de 500 indivíduos de black-bass e analisaram suas condições gonadais, isto é, após identificar o seco do animal, observaram em microscópio seu estágio reprodutivo. Por exemplo, se estavam em reprodução, se estavam iniciando a fase reprodutiva ou se já tinham se reproduzido (gônadas vazias) recentemente.
Os pesquisadores concluíram que há mais fêmeas que machos de black-bass em Passaúna e a espécie se reproduz durante boa parte do ano, mas especialmente no verão. Em comparação com populações de black-bass nativas (lá dos EUA) a brasileira tem um desempenho de crescimento e reprodução até melhor.
Infelizmente, se é bom para o black-bass não é bom para a fauna local, pois ele é uma espécie voraz que se alimenta de alevinos e juvenis de outras espécies. Além disso, pelo fato do black-bass ser exótico, essas espécias não desenvolveram ao longo do tempo estratégias evolutivas capazes de se defender e se esconder dele. O black bass leva ainda mais vantagem por ter evoluído em lagos, ao contrário das espécies nativas, que agora estão no lago (reservatório), mas evoluíram em ambientes lóticos (rios).
Os pesquisadores ainda fazem um apelo aos pescadores esportivos, para que, ao pescarem indivíduos desta espécie, não o devolvam à água, pois, na verdade, não era para o black-bass estar ali, e uma diminuição de sua população pode ajudar o crescimento de outras espécies, tornando a pescaria ainda mais diversificada e surpreendente ao pescador.
Para ler o artigo, acesse
FREITAS, M.O., et al. Reproduction of the invasive largemouth bass Micropterus salmoides (Lacepède, 1802) in a Neotropical reservoir with suggestions to management and control. Acta Limnologica Brasiliensia [online]. 2023, vol. 35, e11 [viewed 25 August 2023]. DOI: https://doi.org/10.1590/S2179-975X6822. Available from: https://www.scielo.br/j/alb/a/SXRMMFZdq5hmdgrydpxdmPM/?lang=en
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Links Externos
Acta Limnologica Brasiliensia – ALB: https://www.scielo.br/j/alb/
Site oficial da Acta Limnologica Brasiliensia: https://www.actalb.org/
Acta Limnologica Brasiliensia – Twitter: https://twitter.com/limnologica
Entrevista com o Prof. Chico Esteves: https://youtu.be/uAE4tVwTPUQ
Autores do estudo
Matheus Oliveira Freitas (Instituto Meros do Brasil)
Vanessa Maria Ribeiro (Universidade Federal do Paraná).
Vinícius Abilho (Museu de História Natural Capão da Imbuía – PR).
Jean Ricardo Simões Vitule (Universidade Federal do Paraná).
Como citar este post [ISO 690/2010]:
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