Alberto Madeiro, editor associado da Epidemiologia e Serviços de Saúde: Revista do SUS, docente da Universidade Estadual do Piauí, Teresina, PI, Brasil
A mortalidade materna permanece como um grave problema para a saúde pública de vários países. Tendo em vista que a maior parte das causas é evitável, a mortalidade materna é considerada um indicador da inadequação dos sistemas de saúde em atender às demandas das mulheres durante a gestação, parto e puerpério.
O artigo Mortalidade materna na adolescência e juventude: tendência temporal e correlação com cobertura pré-natal na Bahia, 2000-2020, publicado no v. 32, n. 2 (2023), do periódico Epidemiologia e Serviços de Saúde: revista do SUS, aprimora o debate sobre o tema, ao analisar a tendência temporal da mortalidade materna de adolescentes (10-19 anos) e adultas jovens (20-24 anos) e correlacionar as mortes maternas com a cobertura pré-natal no estado da Bahia.
Conduzido por pesquisadores da Universidade Federal da Bahia (UFBA), da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP) e da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), o estudo analisou os casos notificados no Sistema de Informação sobre Mortalidade do Ministério da Saúde (SIM/MS), no período de 2000 a 2020.
Os óbitos foram agrupados de acordo com a classificação proposta pela OMS. Das 3.136 mortes maternas registradas na série temporal de duas décadas, 13,3% ocorreram entre adolescentes de 10 a 19 anos, destacando a vulnerabilidade dessa faixa etária. Tanto adolescentes quanto adultas jovens exibiram como principal causa de óbito as doenças hipertensivas, seguida de outras complicações obstétricas (um grupo heterogêneo e amplo de condições), aborto (entre as adolescentes) e hemorragias (entre adultas jovens).
Imagem: Pixabay.
A análise mostrou uma tendência decrescente da razão de mortalidade materna entre as adolescentes e adultas jovens, porém, com taxas ainda acima do preconizado pela OMS para o Brasil (que seria de 30 mortes maternas para 100 mil nascidos vivos até o ano de 2030). Entre as adolescentes, por exemplo, apesar de a razão de mortalidade materna (RMM) ter diminuído 2,2% no período, a taxa observada em 2020 foi de 50,1 por 100 mil nascidos vivos, quase duas vezes a meta pretendida. Além disso, também se demonstrou que o maior número de consultas pré-natais se correlacionava inversamente com a mortalidade materna.
Sabe-se que tanto o acesso aos serviços quanto a qualidade do atendimento prestado durante o ciclo gravídico-puerperal são determinantes para bons resultados gestacionais. Dessa forma, há consenso de que é fundamental qualificar a assistência pré-natal na atenção primária, além de tornar o atendimento obstétrico emergencial resolutivo e rápido, o que passa por treinamento continuado das equipes e adequada estrutura dos serviços.
Os autores acertadamente ponderam que “a melhoria dos registros das causas de óbito nos Sistemas de Informações, a qualificação da atenção obstétrica e investimentos em políticas de saúde sexual e reprodutiva do adolescente deverão contribuir na redução das mortes maternas”. Os dados do estudo demonstram que ainda há muito trabalho a ser feito para diminuir a mortalidade materna entre mulheres abaixo de 25 anos no estado da Bahia.
Referências
PACAGNELLA, R.C., et al. Maternal mortality in Brazil: proposals and strategies for its reduction. Rev Bras Ginecol Obstet [online]. 2018, vol. 40. no. 9, pp. 501-506 [viewed 08 November 2023]. https://doi.org/10.1055/s-0038-1672181. Available from: https://www.scielo.br/j/rbgo/a/WDZn4HnC7BKb35wvtD9DDdd/
World Health Organization (WHO). Trends in maternal mortality 2000 to 2020: estimates by WHO, UNICEF, UNFPA, World Bank Group and UNDESA/Population Division. Available from: https://www.who.int/publications/i/item/9789240068759
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