Alícia Krüger, Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde (SVSA-MS), Brasília, DF, Brasil.
O estudo Mapeamento da população trans da Baixada Santista, 2023: estudo descritivo, publicado no periódico Epidemiologia e Serviços de Saúde (vol. 33, spe. 1, 2024), traz uma descrição da população de pessoas trans, travestis e não-binárias, com 18 anos ou mais, residentes na Baixada Santista, entre julho e novembro de 2023, notando a intersecção entre identidade de gênero e aspectos socioeconômicos desfavoráveis, de forma que é ressaltada a necessidade de desenvolver e aprimorar políticas públicas que abordem as vulnerabilidades específicas da população
O estudo, de delineamento transversal, que objetiva construir dados primários sobre questões de vida, saúde integral e trabalho na população trans, é fruto da parceria entre o Laboratório de Saúde Coletiva da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e o Centro de Referência e Treinamento em DST/Aids da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo (CRT-DST/Aids-SP).
Este artigo resulta de uma pesquisa que, além de focar na população trans, travestis e não-binárias, também contou com a colaboração de pesquisadoras e pesquisadores trans. Todas as pessoas selecionadas para as bolsas da equipe de entrevista no campo quantitativo eram trans, travestis ou não-binárias. Essa abordagem conferiu uma perspectiva mais sensível e representativa ao estudo, garantindo que as vivências e experiências da comunidade fossem respeitadas e adequadamente retratadas.
Foram mapeadas características socioeconômicas e demográficas significativas de 237 participante. Destes, 42,2% identificaram-se como mulheres trans/travestis; 36,3%, como homens trans/transmasculinos; e 20,3%, como pessoas não-binárias, refletindo uma diversidade na autoidentificação de gênero. A faixa etária predominante foi de jovens, com 65,4% até 29 anos.
A autopercepção da identidade trans começou majoritariamente entre os 10 e 19 anos para 55,7% dos respondentes, e 41,8% iniciaram sua transição social nessa mesma faixa etária. Em relação à autodeclaração de raça/cor, 51,1% se identificaram como pessoas brancas, e 45,1%, como pretas/pardas. A maioria era solteira (52,7%) e 80,5% haviam completado o ensino médio. Este índice de escolaridade é maior que o da população em geral com 25 anos ou mais, mas evidencia a necessidade de acesso ao ensino superior, para melhoria das oportunidades socioeconômicas.
A pesquisa também apontou que 32,5% dos participantes não tinham renda, e 31,2% dos que tinham renda recebiam até um salário-mínimo. Essa alta taxa de vulnerabilidade econômica sugere que parte significativa da população trans enfrenta dificuldades financeiras severas, associadas a dificuldades em acessar o trabalho formal, impactando seu bem-estar e acesso a serviços essenciais.
Os resultados ressaltam a intersecção entre identidade de gênero e aspectos socioeconômicos desfavoráveis, evidenciando a necessidade de desenvolver e aprimorar políticas públicas que abordem as vulnerabilidades específicas da população trans, promovendo acesso a serviços de saúde, assistência social, programas educacionais e de acesso e permanência no ambiente de trabalho.
Ademais, destaca-se a importância de considerar as trajetórias de vida e as barreiras enfrentadas por essas pessoas, especialmente em relação ao emprego e à inclusão social. Esses achados sublinham a necessidade urgente de intervenções visando mitigar as desigualdades sociais e melhorar a qualidade de vida da população trans na Baixada Santista.
Confira a seguir o vídeo apresentado por Paola Alves de Souza:
Para ler o artigo, acesse
BARROSO, B.I.L. Mapeamento da população trans da Baixada Santista, 2023: estudo descritivo. Epidemiologia e Serviços de Saúde [online]. 2024, vol. 33, spe. 1, e2024409 [viewed 28 March 2025]. https://doi.org/10.1590/S2237-96222024v33e2024409.especial.pt. Available from: https://www.scielo.br/j/ress/a/bqzmcXvLZfNCKfjyvFXGDkg/
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