Carlos Eduardo Carrusca Vieira, Professor do Programa de Pós-Graduação em Psicologia, Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas), Belo Horizonte, MG, Brasil.
A Organização Internacional do Trabalho (OIT) e as novas regulamentações no Brasil, especialmente a Norma Regulamentadora 1, atualizada em 2024, têm reforçado a urgência de abordar os altos índices de estresse, ansiedade e depressão no trabalho.
Em um cenário no qual a discussão sobre a prevenção aos riscos psicossociais se torna obrigatória para as organizações, uma análise crítica questiona se as intervenções adotadas de fato protegem a saúde dos trabalhadores ou se encobrem os problemas do trabalho.
No artigo Fatores de risco psicossociais relacionados ao trabalho: uma análise contemporânea (vol. 49, 2024), publicado na Revista Brasileira de Saúde Ocupacional (RBSO), destaca-se que a abordagem gerencialista e neoliberal do tema pode ser uma armadilha, sobretudo ao responsabilizar os trabalhadores(as) mediante adoção de soluções individualizantes.
O artigo, escrito por Carlos Eduardo Carrusca Vieira, professor da PUC Minas, e por Nayara Santos, mestre em Psicologia (Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, PUC Minas), fundamenta-se em uma perspectiva teórica que dialoga com as críticas marxistas sobre a produção capitalista e as reflexões sobre a gestão neoliberal. Nas suas análises, os autores destacam que as políticas, instrumentos e medidas de proteção à saúde dos trabalhadores, gestadas sob a ideologia do regime de acumulação capitalista e da governamentalidade neoliberal, muitas vezes se convertem em intervenções que, em vez de transformar as situações de trabalho, ocultam o papel dos fatores laborais sobre a saúde. Tais intervenções superestimam as ações individualizantes e ampliam as pressões sobre os trabalhadores.

Imagem: Criada pelo autores
A pesquisa aponta para uma tendência perigosa: a de responsabilizar o indivíduo pelo seu próprio sofrimento. Muitas das práticas de gerenciamento de riscos psicossociais são apresentadas aos trabalhadores(as) como soluções, mas o estudo as classifica como uma espécie de gestão “cosmética” dos riscos psicossociais. Isto porque, em vez de transformar as condições de trabalho, essas abordagens tentam ajustar o trabalhador a contextos laborais patogênicos.
Dessa forma, a gestão capitalista neoliberal pode permanecer voltada para seu foco prioritário: a rentabilização do capital. Os autores ressaltam que essa lógica gerencialista, aplicada também à gestão dos riscos psicossociais, negligência as contradições estruturais entre capital e trabalho, empobrecendo a discussão crítica e enfraquecendo as iniciativas coletivas de transformação do ambiente laboral.

Imagem: Gerado por Gamma APP
Para os autores, a saúde no trabalho não é a ausência de doença, mas sim a capacidade de os trabalhadores participarem ativamente da análise e transformação de seu trabalho. O artigo conclui que o enfrentamento efetivo dos riscos psicossociais requer a consideração das contradições do modo de produção capitalista e das estruturas mais amplas de poder, incluindo o enfrentamento de questões como racismo, sexismo e violências interseccionais. O estudo defende que, embora as políticas de mitigação sejam importantes, a superação desses riscos deve, em última análise, apontar para a necessidade de superação da própria economia capitalista.
Para ler o artigo, acesse
VIEIRA, C.E.C. and SANTOS, N.C.T. Fatores de risco psicossociais relacionados ao trabalho: uma análise contemporânea. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional [online]. 2024, vol. 49, edsmsubj1 [Viewed 5 November 2025]. https://doi.org/10.1590/2317-6369/35222pt2024v49edsmsubj1. Available from: https://www.scielo.br/j/rbso/a/Rz43Np8SncG3zJ7zL6VtCGx/
Links externos
Programa de Pós-Graduação em Psicologia da PUC Minas
Revista Brasileira de Saúde Ocupacional – RBSO
Revista Brasileira de Saúde Ocupacional (Fundacentro)
Revista Brasileira de Saúde Ocupacional – X
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