O cenário evolutivo do transplante renal no Brasil: Hospital Universitário publica seus resultados

Por José A. Moura Neto, Editor de Mídias Sociais, Brazilian Journal of Nephrology, São Paulo, SP, Brasil

Médicos do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Botucatu (HCFMB), da UNESP, realizaram um levantamento histórico de transplantes renais ocorridos desde 1987 na unidade e publicaram o artigo “Avaliação dos 1000 transplantes renais realizados no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Botucatu (HCFMB) da UNESP e a sua evolução ao longo dos anos” no Brazilian Journal of Nephrology (vol. 40, no. 2). Os resultados são animadores e evidenciam, além do crescimento do número de transplantes de rim, uma tendência evolutiva positiva no campo da transplantação no Brasil e no mundo (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE TRANSPLANTES DE ÓRGÃOS, 2016). Apesar da piora do perfil dos pacientes, o estudo demonstrou melhora importante nos resultados clínicos.

Esse estudo foi uma continuação de um trabalho prévio, que avaliou 600 transplantes ocorridos na unidade até 2011 (ANDRADE, et al., 2014). Foram avaliados 1.046 transplantes renais que foram subdivididos em épocas distintas. O primeiro período foi o mais longo e se estendeu de 1987 a 2000, tendo ocorrido 157 transplantes. Em seguida, de 2001 a 2006, foram contabilizados 104 transplantes. No terceiro (2007 a 2014) e quarto (2015-2016) períodos, respectivamente, ocorreram 591 e 194 transplantes. A divisão das fases evidencia diferenças de prática e do uso de drogas imunossupressoras ao longo do tempo. No primeiro período, foi utilizado ciclosporina e azatioprina. No segundo período, ciclosporina e micofenolato. No terceiro período, foi utilizado tacrolimo e um antimetabólico. No quarto e mais recente período, tacrolimo e antimetabólico, aumentando a combinação de tacrolimo e inibidor da mTOR. Todos os esquemas de imunossupressão tinham a prednisona associada.

A taxa de transplantes, calculada dividindo-se o número de transplantes renais pelo tempo em meses, aumentou progressivamente ao longo dos quatro períodos. De cerca de 1 transplante por mês entre 1987 a 2006, para 6 entre 2007 e 2014 e 10 no último período estudado (2015-2016).

A média de idade dos doadores e dos receptores aumentou, assim como o número e percentual de transplantes com doador falecido, de 33,1 para 82,4%. Além disso, o tempo em diálise do receptor também aumentou, de 24 para 39 meses. Essa mudança no perfil clínico dos receptores e doadores também foi descrita por outros autores (HUANG, et al., 2017).

Apesar dessas mudanças de perfil estarem, provavelmente, associadas a um pior desfecho clínico, não foi observada essa tendência. Pelo contrário, a avaliação dos resultados demonstra uma evolução positiva do transplante renal historicamente na unidade. Houve menor taxa de rejeição, menores taxas de complicações urológicas e diabetes após o transplante, menor perda do enxerto e melhora da sobrevida do enxerto renal. Não foi demonstrada diferença significativa na sobrevida dos pacientes nos períodos estudados.

Dr. Hong Si Nga, um dos autores do estudo, destaca a importância da realização de estudos históricos de um serviço para avaliar seu desenvolvimento ao longo dos anos e identificar fatores que possam contribuir para seu crescimento. Segundo o autor, a avaliação dos 1000 transplantes renais do HCFMB/ UNESP mostrou melhora dos resultados ao longo dos anos, com maior número total de transplantes e melhora das taxas de perda de enxerto e rejeição em 12 meses pós transplante renal, sendo que estas taxas estão muito próximas a literatura internacional.

Acreditamos que esses resultados sejam um reflexo do serviço de transplante renal, que evoluiu com melhor alocação de órgãos, potência dos imunossupressores e experiência da equipe médica”, acrescenta o autor. No entanto, essa evolução parece tender a uma estabilização a curto prazo, já que não existem estratégias novas no momento para maior otimização de tais resultados, como novas drogas imunossupressoras e táticas que melhorem adesão do paciente.

Esses resultados animadores colocam em perspectiva histórica as mudanças de práticas e de resultados ao longo do tempo não apenas na unidade avaliada, mas é um reflexo de uma tendência do setor e, possivelmente, podem ser extrapolados em um nível nacional e internacional. Em tempos de notícias não tão boas em diversas áreas, esses achados podem ser um indicativo de uma evolução positiva do campo de transplante de órgãos no Brasil e no mundo. Esforços devem ser aplicados para que essa tendência de melhora seja continuada.

Referências

ANDRADE, L.G.M., et al. Os 600 transplantes renais do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Botucatu (HC da FMB) – UNESP: Mudanças ao longo do tempo. J. Bras. Nefrol. [online]. 2014, vol. 36, no. 2, pp. 194-200, ISSN: 0101-2800 [viewed 14 November 2018]. DOI: 10.5935/0101-2800.20140030. Available from: http://ref.scielo.org/bw2gtp

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE TRANSPLANTES DE ÓRGÃOS. Dimensionamento dos transplantes no Brasil e em cada estado (2009-2016). Registro Brasileiro de Transplantes. 2016, vol. 22, no. 4, pp. 1-89 [viewed 14 November 2018]. Available from: http://www.abto.org.br/abtov03/Upload/file/RBT/2016/RBT2016-leitura.pdf

HUANG, Y., et al. Understanding Trends in Kidney Function 1 Year after Kidney Transplant in the United States. J Am Soc Nephrol [online]. 2017, vol. 28, no. 8, pp. 2498-2510, eISSN: 1533-3450 [viewed 14 November 2018]. DOI: 10.1681/ASN.2016050543. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/28270413

Para ler o artigo, acesse

NGA, H.S., et al. Avaliação dos 1000 transplantes renais realizados no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Botucatu (HCFMB) da UNESP e a sua evolução ao longo dos anos. J. Bras. Nefrol. [online]. 2018, vol. 40, no. 2, pp. 162-169, ISSN: 0101-2800. DOI: 10.1590/2175-8239-jbn-3871. Available from: http://ref.scielo.org/3ykztz

Link externo

Jornal Brasileiro de Nefrologia – JBN: <www.scielo.br/jbn>

 

Como citar este post [ISO 690/2010]:

MOURA NETO, J.A. O cenário evolutivo do transplante renal no Brasil: Hospital Universitário publica seus resultados [online]. SciELO em Perspectiva | Press Releases, 2018 [viewed ]. Available from: https://pressreleases.scielo.org/blog/2018/11/14/o-cenario-evolutivo-do-transplante-renal-no-brasil-hospital-universitario-publica-seus-resultados/

 

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