Rubia Carolina Farias Santos, Assistente Editorial, Fisioterapia em Movimento, PUCPR, Curitiba, PR, Brasil.
Lesões são bastante comuns entre atletas. Após uma lesão, há vários fatores a serem considerados antes do retorno ao esporte, o qual pode ser diferente para cada atleta dependendo da modalidade de esporte e do nível esportivo ao qual pretende-se retornar. A fim de diminuir o risco de futuras lesões, junto à cura fisiológica deve-se levar em conta uma recuperação e reabilitação satisfatórias. A decisão de voltar à prática do esporte não deve ser tomada isoladamente, mas por uma variedade de pessoas, incluindo equipe médica, fisioterapeuta, técnico, familiares e amigos (PHYSIOPEDIA).
Uma vez liberados fisicamente, a maioria dos atletas não tem problemas para voltar à prática esportiva. Outros, no entanto, podem estar preparados fisicamente, mas não mentalmente, o que pode resultar em diminuição da confiança e consequente declínio no desempenho, estresse, ansiedade, medo de voltar a jogar e de sofrer novas lesões (WEISS, W. M.).
Nos esportes que requerem mudanças abruptas de direção em alta velocidade ou movimentos de desaceleração com alta carga sobre o joelho, a ruptura do ligamento cruzado anterior é uma lesão prevalente (BJORDAL, J.M., et al.). A tomada de decisão por cirurgia de reconstrução ligamentar ou por tratamento conservador depende da extensão da lesão, nível de instabilidade, prática de atividade física e demanda funcional do paciente (FEUCHT, M.J., et al.).
Aqueles que tem o propósito final de retornar à prática esportiva optam pela reconstrução do ligamento cruzado anterior (RLCA) (MÜLLER, U., et al.), e o retorno à prática esportiva com nível de desempenho semelhante ao anterior à lesão é almejado pelos pacientes que realizam tratamento fisioterapêutico para a reabilitação dessas lesões (FEUCHT, M.J., et al.).
Nos últimos anos, fatores psicológicos têm sido investigados como possíveis variáveis que podem favorecer ou impedir o indivíduo submetido à RLCA de voltar a praticar esportes no nível pré-lesão (EVERHART, J.S., et al.), sendo um destes fatores a autopercepção do paciente sobre sua condição funcional.
Desta forma, objetivando conhecer as barreiras, facilitadores e o significado do retorno ao esporte sob o ponto de vista do paciente que se submeteu à RLCA, realizou-se uma pesquisa narrativa de abordagem qualitativa através de entrevista semiestruturada e instrumentos padronizados: Anterior Cruciate Ligament – Return to Sport After Injury Scale (ACL-RSI), International Knee Documentation Committee (IKDC) e Escala de Marx. A pesquisa, intitulada Return to sport after anterior cruciate ligament reconstruction: a qualitative analysis, foi publicada na revista Fisioterapia em Movimento.
Foram entrevistados 29 pacientes, sendo 3 mulheres e 26 homens, com média de idade de 37,1 anos. Com relação à prática esportiva, 72,4% jogavam futebol, 20,7% praticavam esportes overhead e 6,9% praticavam esportes de luta. Vinte e três participantes retornaram ao seu nível esportivo pré-lesão. Destes, 39,1% mantiveram a mesma frequência de participação esportiva, 34,8% diminuíram e 26,1% aumentaram a frequência quando comparados os períodos pré-lesão e após a cirurgia.
A análise das entrevistas gerou três unidades temáticas principais relacionadas com o retorno ao esporte após a reconstrução ligamentar: autodisciplina, medo de uma nova lesão e suporte social. O medo foi encontrado como fator relevante na decisão tanto daqueles que retornaram quanto daqueles que não retornaram ao esporte: enquanto os últimos atribuíram ao medo muito de sua decisão de não retornar à prática esportiva, os primeiros optaram usá-lo como motivador para ultrapassar as barreiras e retornar ao desempenho pré-lesão. Além disso, o suporte social também apresentou papel importante na decisão dos pacientes sobre o retorno ao esporte após o procedimento cirúrgico, sendo, porém, a autodisciplina e o prazer pela prática de esportes fatores determinantes para esse desfecho.
Concluiu-se que fatores psicológicos influenciam a decisão de retorno ao esporte pós-RLCA e que os fisioterapeutas, portanto, devem estar atentos aos aspectos psicológicos e expectativas dos pacientes, considerando a necessidade de outros profissionais da saúde na preparação do retorno ao nível esportivo pré-lesão e alcance de resultados mais satisfatórios.
SANTOS, R.C.F. Fatores psicológicos influenciam a decisão de retorno ao esporte após a ocorrência de lesões [online]. SciELO em Perspectiva | Press Releases, 2023 [viewed ]. Available from: https://pressreleases.scielo.org/blog/2023/08/28/fatores-psicologicos-influenciam-a-decisao-de-retorno-ao-esporte/
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