Diagnóstico de malformações congênitas durante a gravidez é tema difícil para família e profissionais e pode afetar a saúde mental da gestante

Por Ana Cristina Barros da Cunha, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto de Psicologia, Maternidade-Escola

Pesquisadores do Laboratório de Estudos, Pesquisa e Intervenção em Desenvolvimento e Saúde (LEPIDS – www.lepids.org), vinculado à Maternidade Escola da Universidade Federal do Rio de Janeiro publicaram um estudo recente na revista científica Estudos de Psicologia (Campinas) sobre o impacto do diagnóstico de malformações congênitas sobre a saúde mental de gestantes ao longo da gravidez. Com base na avaliação psicológica e entrevistas a mulheres grávidas atendidas no Setor de Medicina Fetal da instituição, foi confirmado que o diagnóstico da malformação congênita gera na mulher um estado emocional potencialmente desfavorável à sua saúde mental desde o início da gestação. Também os profissionais que atendem estas mulheres se sentem desconfortáveis no momento de dar a notícia do diagnóstico, percebido pelas próprias gestantes participantes da pesquisa como ilustra o relato de uma entrevistada: “Receber a notícia é ruim. Os médicos também ficam tristes”. Isso ressalta a importância da comunicação do diagnóstico como fator fundamental na vivência dos sentimentos e expectativas negativas relacionados a este diagnóstico, os quais podem repercutir negativamente em todos os envolvidos na gravidez. O estudo foi realizado com 66 gestantes do 1º ao 3º trimestre gestacional com diagnóstico confirmado de malformação fetal. Durante a espera para atendimento no Setor, as gestantes responderam a inventários para avaliação de sintomas de ansiedade e depressão e um questionário para investigar aspectos relacionados à notícia e ao enfrentamento do diagnóstico. Resultados da investigação revelaram que todas as gestantes apresentaram ansiedade e 78% delas relataram sintomas de depressão, os quais estiveram presentes durante toda a gestação. Houve maior incidência de ambas as patologias quando o diagnóstico de malformação congênita era transmitido no 2º trimestre da gravidez, embora sintomas de depressão tenham sido ligeiramente maiores no 1º trimestre. Ao final da gestação, os sintomas de depressão passaram a ser equivalentes aos de ansiedade. Sobre a percepção da comunicação do diagnóstico e seu enfrentamento, as mulheres, todas informadas por um médico, destacaram nas entrevistas a postura cuidadosa e atenciosa adotada pelo profissional, como neste relato: “A médica super atenciosa foi bem cautelosa, onde a mesma não deu 100% de algo sério e sim que iriam ser feitos diagnósticos”. No entanto, conforme esperado, nenhuma gestante relatou ter tido uma reação inicial positiva. Reações de choque e relatos como: “Fiquei triste, desesperada, sem ter certeza de nada”, foram comuns frente ao diagnóstico e também compartilhados por seus companheiros e familiares. Com base nestes resultados, conclui-se que a notícia do diagnóstico de malformação congênita deve ser transmitida de forma acolhedora, com linguagem clara e informações objetivas e acessíveis. O impacto da má notícia pode ser minimizado por meio do restabelecimento da confiança no acompanhamento médico, assim como da aceitação do fato pelo companheiro e familiares. Todos estes fatores são fundamentais para que a mulher e todos os envolvidos na gravidez possam atribuir novo sentido e significado à experiência de gestar um bebê malformado.

Para ler o artigo, acesse

CUNHA, A.C.B., et al. Diagnóstico de malformações congênitas: impacto sobre a saúde mental de gestantes. Estudos de Psicologia (Campinas). 2016, vol. 33, nº 4, pp. 601-611. [viewed 17th October 2016]. ISSN: 1982-0275. DOI: 10.1590/1982-02752016000400004. Available from: http://ref.scielo.org/x25rwn

Link externo

Estudos de Psicologia (Campinas) – ESTPSI: <http://www.scielo.br/estpsi>

 

Como citar este post [ISO 690/2010]:

CUNHA, A.C.B., et al. Diagnóstico de malformações congênitas durante a gravidez é tema difícil para família e profissionais e pode afetar a saúde mental da gestante [online]. SciELO em Perspectiva | Press Releases, 2016 [viewed ]. Available from: https://pressreleases.scielo.org/blog/2016/12/07/diagnostico-de-malformacoes-congenitas-durante-a-gravidez-e-tema-dificil-para-familia-e-profissionais-e-pode-afetar-a-saude-mental-da-gestante/

 

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