Por Maria Cecília de Souza Minayo, Editora-chefe e Luiza Gualhano, Assistente de comunicação, Rio de Janeiro, RJ, Brasil
A medicina é uma área de conhecimento eminentemente voltada para a prática. Mas desde as reformas fundamentadas no modelo flexneriano, seu exercício vem sendo marcado pelo positivismo sociológico e pelo biologicismo cada vez mais especializado. Esse viés teórico apresenta uma lacuna imperdoável em relação ao social, pois vida e morte, saúde, doença e tratamento são processos biológicos entranhados e atravessados pela história e pela cultura, o que se manifesta em valores, crenças, representações, relações, atitudes, comportamentos e práticas. É claro que os médicos sabem disso porque o vivenciam nas relações com seus pacientes nos consultórios, hospitais e clínicas. Por isso, intuitivamente têm certeza de que esses conceitos regem o cotidiano de todos inclusive o deles. Contudo, racionalmente, não aceitam que eles possam se tornar objeto científico de estudo.
No entanto, as abordagens qualitativas se fundamentam em princípios filosóficos que — considerando apenas a ciência moderna — vêm sendo desenvolvidos há mais de dois séculos, e aplicados nas ciências humanas e sociais por meio de estudos socioantropológicos compreensivos, hermenêuticos e fenomenológicos desde o final do século XIX. Daí que não deveria haver desculpas para que tais perspectivas fossem desconhecidas dos médicos cuja profissão requer humanismo e cuja prática é genuinamente intersubjetiva.
Nesse sentido, consideram-se alvissareiros dois fenômenos atuais: o primeiro é o fato de algumas Revistas Biomédicas de ponta como Lancet e outras terem começado a publicar artigos qualitativos de forma cada vez mais frequente. O segundo é a criação de novas escolas de medicina voltadas para a atenção primária em que a relação com a população se torna cada vez mais próxima, exigindo habilidades relacionais e capacidade intersubjetiva.
No volume 22, número 1 de 2017, Ciência & Saúde Coletiva contribui com o debate das questões acima levantadas e apresenta resultados de estudos genuinamente qualitativos produzidos por médicos ou por equipes de pesquisa das quais eles fazem parte. Entende-se que a participação desses profissionais em trabalhos de natureza compreensiva contribui para a redução da distância que existe entre saúde coletiva e prática clínica e para melhorar a relação médico-paciente.
Para ler os artigos, acesse
Ciência & Saúde Coletiva, vol.22 no.1, Rio de Janeiro, Jan. 2017 – <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_issuetoc&pid=1413-812320170001&lng=pt&nrm=iso>
Link externo
Ciência & Saúde Coletiva – CSC: <http://www.scielo.br/csc>
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