Prática insuficiente de atividade física é fator de risco para sarcopenia e obesidade sarcopênica

Por Luís Alberto Gobbo, Professor assistente, Universidade Estadual Paulista, Presidente Prudente, SP, Brasil

O Laboratório de Avaliação do Sistema Musculoesquelético, do Departamento de Educação Física da Faculdade de Ciências e Tecnologia da UNESP, de Presidente Prudente, SP, procura desde 2013 responder questões relacionadas aos benefícios da prática de atividade física para a redução do risco de agravos específicos de pessoas idosas, como a sarcopenia e a obesidade sarcopênica.

Com o aumento do número absoluto e relativo de idosos na população, cresce as preocupações com os agravos acometidos neste grupo etário, sobretudo aqueles relacionados ao aumento de risco para a incapacidade funcional e fragilidade.

Dois destes agravos, também considerados síndrome geriátrica (CRUZ-JENTOFT, et al., 2010a) estão associados às alterações morfológicas que ocorrem em função do envelhecimento: a sarcopenia — baixa massa muscular associada à baixa força muscular ou ao mau desempenho do motor (CRUZ-JENTOFT, et al., 2010b) — e obesidade sarcopênica — sarcopenia associada ao excesso de gordura corporal (BAUMGARTNER, et al., 2004), que podem reduzir a capacidade funcional, dificultando a habilidade de pessoas idosas de realizar de forma independente as atividades de vida diária. Além disso, são fatores de risco para doenças cardiometabólicas, quedas, fragilidade e morte.

A atividade física regular ajuda a manter ou mesmo aumentar a massa e a força muscular, a reduzir a gordura corporal, e consequentemente, melhorar o desempenho do motor. Sob esta perspectiva, a prática regular de atividade física pode contribuir para a prevenção e tratamento de sarcopenia e obesidade sarcopênica em idosos.

A atividade física pode ser quantificada por domínios distintos: no lazer, no trabalho e para o deslocamento. Apesar de estudos apresentarem resultados positivos da prática de atividade física para redução dos riscos para sarcopenia, não foram apresentados quais domínios específicos contribuem para esta maior associação. O conhecimento destes domínios auxiliará na adoção de medidas preventivas de saúde direcionado às atividades físicas benéfica de um ou mais domínio específico.

Nesta linha de pesquisa, a aluna de doutorado Vanessa Ribeiro dos Santos, membro integrante do laboratório, e orientada pelo Prof. Dr. Luís Alberto Gobbo, desenvolve um projeto de observação e acompanhamento junto a usuários de Unidades Básicas de Saúde do município, considerando diversas variáveis morfológicas, funcionais e sociais.

No estudo “Análise da associação da prática insuficiente de atividade física com sarcopenia e obesidade sarcopênica em indivíduos com idade igual ou superior a 50 anos” (SANTOS et al., 2017) publicado na Revista de Nutrição da PUC-Campinas em 2017 (volume 30, número 2), os pesquisadores verificaram que dentre as possibilidades de prática de atividade física, seja no lazer, no trabalho ou para fins de locomoção, aquelas realizadas no lazer auxiliam na redução do risco para a sarcopenia — redução da massa muscular e força, com prejuízos para a funcionalidade de idosos — e obesidade sarcopênica.

O nível de atividade física, via de regra, é avaliado a partir de questionários que procuram identificar como é realizado a atividade e por quanto tempo ela é realizada. Os estudos que procuram relacionar os agravos aqui mencionados com a prática insuficiente de atividade física usualmente consideram a prática habitual total de atividade, sem distinção em como esta atividade é realizada, seja no lazer, no trabalho ou em atividades de locomoção. O estudo que é parte integrante da tese de doutorado da aluna Vanessa distinguiu os domínios da atividade física e os relacionou aos agravos.

Vale ressaltar que a prática de atividade física no lazer refere-se àquelas atividades realizadas em momentos extra laboral, em academias, clínicas, clubes, parques, ginásios, etc. Dos participantes do presente projeto, homens e mulheres com idade igual ou superior a 50 anos, valor aproximado de 68% não realizam atividades físicas neste domínio específico (Figura 1), número alto, porém dentro dos limites encontrados na literatura.

Além deste número alarmante, foi verificado que pessoas que não realizam com frequência atividade física no lazer tem 2,5 vezes mais chances de se apresentarem sarcopênicos ou obesos sarcopênicos, comparados àqueles que realizam esta atividade. No estudo em questão, a sarcopenia foi avaliada a partir de proposta de um consenso europeu para a investigação em sarcopenia, que considera a velocidade de caminhada, a força muscular e a massa muscular como variáveis para o diagnóstico da sarcopenia, e associado a avaliação da gordura corporal, identificou aqueles com obesidade sarcopênica.

Para a obesidade sarcopenia, além da prática insuficiente de atividade física no lazer, atividades de locomoção e a atividade física habitual (que é o somatório dos três domínios) foi correlacionada ao agravo que é ainda mais preocupante, tendo em vista que junto à baixa massa e força muscular, a maior quantidade de gordura corporal potencializa os riscos para a incapacidade funcional e processos de fragilização.

Os autores chamam a atenção para os pontos fortes do estudo, em que “a avaliação de pessoas tratadas por unidades básicas de saúde e a busca de informações permitirão o desenvolvimento de estratégias para a prevenção primária da sarcopenia”, sendo que, segundo o próprio estudo, atividades físicas no lazer são preponderantes para a manutenção do músculo, no envelhecimento, e não somente atividades de caminhadas, por exemplo, ou aquelas realizadas em situação laboral.

Neste sentido, pessoas idosas, sobretudo, devem ser incentivadas a realizar cada vez mais atividades físicas em ambientes fora do trabalho e do próprio lar, como opção de lazer.

Referências

BAUNGARTNER, R. N., et al. Sarcopenic obesity predicts instrumental activities of daily living disability in the elderly. Obes Res. 2004, vol. 12, no. 12, pp. 1995-2004.

CRUZ-JENTOFT, A. J., et al. Understanding sarcopenia as a geriatric syndrome. Curr Opin Clin Nutr Metab Care. 2010a, vol. 13, no. 1, pp. 1-7.

CRUZ-JENTOFT, A. J., et al. Sarcopenia: European consensus on definition and diagnosis: Report of the European Working Group on Sarcopenia in Older People. Age Ageing. 2010b, vol. 39, no. 4, pp. 412-423.

Para ler o artigo, acesse

SANTOS, V. R., et al. Análise da associação da prática insuficiente de atividade física com sarcopenia e obesidade sarcopênica em indivíduos com idade igual ou superior a 50 anos. Rev. Nutr. 2017, vol. 30, no. 2, pp. 175-184 [viewed 26 June 2017]. DOI: 10.1590/1678-98652017000200003. Available from: http://ref.scielo.org/xs5mdk

Link externo

Revista de Nutrição – RN: <http://www.scielo.br/rn>

 

Como citar este post [ISO 690/2010]:

GOBBO, L. A. Prática insuficiente de atividade física é fator de risco para sarcopenia e obesidade sarcopênica [online]. SciELO em Perspectiva | Press Releases, 2017 [viewed ]. Available from: https://pressreleases.scielo.org/blog/2017/07/20/pratica-insuficiente-de-atividade-fisica-e-fator-de-risco-para-sarcopenia-e-obesidade-sarcopenica/

 

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