Aplicação de modelos probabilísticos na vigilância de Aedes: exemplo do Rio Grande do Sul, Brasil

Tatiana Mingote Ferreira de Ázara, Editora Associada da Epidemiologia e Serviços de Saúde: revista do Sistema Único de Saúde do Brasil (RESS), Ministério da Saúde, Brasília, DF, Brasil.

A dengue é a arbovirose urbana mais prevalente nos estados brasileiros e, até 2002, era detectada somente em casos importados no Rio Grande do Sul. Desde 2010, o estado vem detectando casos locais da doença e, a partir de 2015, acrescenta-se a este cenário a circulação de chikungunya e Zika no país, trazendo mais complexidade à epidemiologia das arboviroses. Inclui-se nesse cenário o crescente número de municípios infestados pelo mosquito Aedes aegypti. Em 2021, 404 das 497 cidades do estado haviam relatado a presença do mosquito, indicando que 80% das localidades apresentam algum risco de transmissão das doenças.

A vigilância dos mosquitos transmissores de arbovírus, que causam doenças como dengue, chikungunya e Zika, tem um grande desafio: obter indicadores que consigam auxiliar os profissionais de saúde e gestores a direcionar as atividades de controle. Esse auxílio deve ser aliado aos dados epidemiológicos, ou seja, número de casos das doenças, além de características do ambiente, da população local, entre outros. Para aprimorar essa atividade de vigilância, profissionais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e da Secretaria de Estado de Saúde elaboraram um artigo científico. Nele, fizeram uma proposta de modelo de classificação baseada na estimativa de probabilidade de infestação de Aedes no Rio Grande do Sul.

A proposta foi apresentada pelo trabalho intitulado “Mapeamento dinâmico da probabilidade de infestação por vetores urbanos de arbovírus nos municípios do Rio Grande do Sul, 2016-2017”. Foi desenvolvida por Luza et al. (2021) e publicado no periódico Epidemiologia e Serviços de Saúde: revista do Sistema Único de Saúde do Brasil (RESS, v. 30:2). O artigo apresenta a proposta do modelo probabilístico, indicando as variáveis que o grupo utilizou para compor o indicador. Além disso, os autores compararam o modelo gerado com os dados que são utilizados na rotina do estado, ou seja, número de coletas de larvas, indicando se os municípios são infestados ou não infestados pelo mosquito.

Imagem: IOC/Fiocruz – Genilton Vieira.

Os pesquisadores verificaram que os modelos probabilísticos indicaram um número maior de possíveis municípios infestados, isto é, com a presença de Aedes, quando comparado com os valores de infestação oficial. Municípios considerados oficialmente não infestados apresentaram notificação de arboviroses e alta probabilidade de infestação. Isso indica que alguns fatores podem influenciar a detecção da espécie nos municípios, incluindo dificuldades operacionais e falta de pessoal. Podem-se acrescentar, ainda, características do próprio vetor, que consegue identificar criadouros muitas vezes de difícil visualização ou acesso dos profissionais de campo.

A comparação do mapeamento oficial com o mapeamento probabilístico revelou que os critérios de classificação oficial identificavam corretamente os municípios infestados criticamente. Porém, falhavam em identificar a infestação em municípios com possíveis falsos zeros e onde a infestação variava temporalmente. Desta forma, o modelo propõe a correção das dificuldades operacionais e incorpora a distribuição espacial da infestação, reduzindo a frequência de não se detectar o vetor em locais onde ele está presente. Com isso, de acordo com os autores, as questões operacionais poderão ser minimizadas, com melhora dos indicadores propostos e, por consequência, ganho na qualidade do serviço prestado à população.

Para ler o artigo, acesse

LUZA, A. L. et al. Mapeamento dinâmico da probabilidade de infestação por vetores urbanos de arbovírus nos municípios do Rio Grande do Sul, 2016-2017. Epidemiol. Serv. Saúde [Internet]. 2021, vol.30, no.02 [viewed 12 July 2021]. https://doi.org/10.1590/s1679-49742021000200006. Available from: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2237-96222021000200304&lng=en

Links externos

BRAGA, I. A. and VALLE, D. Aedes aegypti: histórico do controle no Brasil. Epidemiol. Serv. Saúde [Internet]. 2007, vol.16, no.02, pp. 113-118 [viewed 12 July 2021]. http://dx.doi.org/10.5123/S1679-49742007000200006. Available from: http://scielo.iec.gov.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1679-49742007000200006

Diretrizes nacionais para prevenção e controle de epidemias de dengue – 2009: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/diretrizes_nacionais_prevencao_controle_dengue.pdf

Epidemiologia e Serviços de Saúde – RESS: https://www.scielo.br/ress

Guia de Vigilância em Saúde 2019 – Capítulo 7: Dengue, Chikungunya e Zika: https://portalarquivos2.saude.gov.br/images/pdf/2019/junho/25/guia-vigilancia-saude-volume-unico-3ed.pdf

Programa Estadual de Vigilância e Controle do Aedes (PEVCA) – Rio Grande do Sul: https://www.cevs.rs.gov.br/aedes

Rio Grande do Sul. Informativo Epidemiológico de Arboviroses – Abril de 2021: https://saude.rs.gov.br/upload/arquivos/202104/09124228-informativo-epidemiologico-dengue-chik-zika-e-fa-se-13-28-03-a-03-04.pdf

 

Como citar este post [ISO 690/2010]:

ÁZARA, T. M. F. Aplicação de modelos probabilísticos na vigilância de Aedes: exemplo do Rio Grande do Sul, Brasil [online]. SciELO em Perspectiva | Press Releases, 2021 [viewed ]. Available from: https://pressreleases.scielo.org/blog/2021/07/12/aplicacao-de-modelos-probabilisticos-na-vigilancia-de-aedes-exemplo-do-rio-grande-do-sul-brasil/

 

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