O que um Cirurgião Dentista deve saber sobre pressão arterial antes de atender seu paciente?

Maria Cristina Pedrazini, Cirurgiã Dentista Especialista e Mestre em Implantodontia, Docente e Doutoranda em Farmacologia, Anestesiologia e Terapêutica, Campinas, SP, Brasil.

Alterações importantes na pressão arterial na prática clínica: revisão narrativa de literatura, publicado na RGO – Revista Gaucha de Odontologia levanta uma discussão importante. A Professora Maria Cristina Pedrazini, que já vivenciou essas situações e as conduziu com segurança, contou com o auxílio do Professor Francisco C. Groppo, da enfermeira e professora Mônica F. Groppo e da cardiologista Luciane F. G. Odone para elaborar um texto de fácil leitura, revisando a literatura sobre o assunto e trazendo, ao conhecimento dos profissionais, o que se tem de mais importante sobre o tema.

Com o aumento da expectativa de vida em todo o mundo, a presença de idosos com comorbidades associadas vem aumentando em consultórios médicos e odontológicos, e sempre haverá um risco ao atendê-los. A grande maioria dos procedimentos envolvem anestesias locais, quadros de ansiedade e medo do tratamento, que serão gatilhos da descompensação pressórica. Em um consultório odontológico não será impossível vivenciar uma crise hipertensiva ou ainda conseguir se fazer um diagnóstico de estenose de subclávia. Ambas as situações devem ser controladas, com risco de morte ao paciente, mas um cirurgião-dentista pode conduzir a situação, evitando riscos, se souber o que esses achados significam.

Durante o estresse, ocorre liberação de cortisol, aumento da PA sistólica, reações hemodinâmicas e cardiovasculares (Liau et al., 2008). Pode ainda ocorrer um aumento de 40 vezes na concentração da adrenalina endógena, elevando muito os níveis basais desse hormônio (Andrade, 2014) e a iatrosedação, diálogo franco e calmo entre o profissional e paciente, é muito positiva e recomendada (Pedrazini & Groppo, 2020) assim com sedação com ansiolíticos e analgésicos (Silva et al., 2013).

Usualmente, pacientes com idades superiores a 50 anos podem já apresentar diabetes, cardiopatias, alteração de colesterol, ateroscleroses e principalmente a hipertensão arterial sistêmica (Williams et al., 2018; Barroso et al., 2020) e a ansiedade e/ou dor com descontrole pressórico é algo que não pode ocorrer.

Com o envelhecimento a hipertensão sistólica isolada também se instala e deve ser considerada durante os atendimentos. Outra manifestação importante que acomete pacientes hipertensos mal controlados e até mesmo alguns normotensos, é a crise hipertensiva (Pedrazini & Groppo, 2020).

Pacientes fumantes, diabéticos, hipertensos ou com mais de 50 anos, na primeira consulta e a cada 12 meses, a PA deve ser aferida nos dois braços e diante de diferenças pressóricas importantes que foram discutidas no artigo, o paciente deve ser encaminhado para investigação médica pois o quadro sugere uma estenose de subclávia (Pedrazini et al., 2016).

Imagem: Prof Dra Maria Cristina Pedrazini

A hipertensão arterial sistêmica é a comorbidade mais prevalente (56%) entre os pacientes com COVID19 que necessitam de internação (Azevedo et al., 2021) sendo o CD, muitas vezes o profissional que pode, em seus atendimentos, fazer o diagnóstico preliminar de qualquer alteração uma vez que muitos pacientes visitam mais seu dentista que seu cardiologista.

Cautela deve existir diante de uma única alteração pressórica em um paciente em atendimento, pois pode se estar diante da hipertensão do avental branco que afeta tanto o hipertenso controlado como o normotenso (Barroso et al., 2020).

Vários casos de lipotimias, síncopes, choque e até morte foram relatados durante curtos procedimentos odontológicos. Monitorar os sinais vitais mesmo durante esses procedimentos simples, tanto em pacientes saudáveis, mas principalmente naqueles com comprometimento médico, ajudará os profissionais na prevenção de emergências médicas agudas e na tomada de decisão sobre sua resolução (Gadve et al., 2018).

Para atendimentos ambulatoriais, os valores pressóricos permitidos terão seus limites a depender do procedimento e o paciente poderá ou não receber o tratamento odontológico (Andrade, 2014).

Aferir a PA é uma conduta mandatória a todo profissional da saúde (Barroso et al., 2020) que deve estar atento às possíveis alterações pressóricas antes, durante, ao término do atendimento e na dispensa do paciente, visando a prevenção de riscos. Não existem garantias de que a PA se manterá nos níveis iniciais, mesmo em normotensos pois a dor, a ansiedade e o medo serão gatilhos e dependendo dos valores pressóricos e da velocidade do aumento da PA, o procedimento deverá ser abortado e o paciente encaminhado (Pedrazini & Groppo, 2020).

Mundialmente, são 17 milhões de mortes/ano por doenças cardiovasculares e 55% delas, ou seja quase 10 milhões, são associadas a quadros de crises hipertensivas (OMS, 2013).

Cirurgiões dentistas, assim como outros profissionais de saúde, intervém em pacientes de forma ambulatorial, aplicando fármacos e anestésicos locais, gerando ansiedade e medo. Devemos enfatizar a importância da monitorização dos sinais vitais durante esses atendimentos, ou seja, em todas as consultas e em mais de um momento. Diante de qualquer alteração, tomar as decisões mais assertivas, bem como fazer os encaminhamentos necessários é a melhor escolha.

Leia mais

LIAU F.L., et al. Cardiovascular influence of dental anxiety during local anesthesia for tooth extraction. Oral Surgery, Oral Medicine, Oral Pathology, Oral Radiology, and Endodontology [online]. 2008, vol. 105, no. 1, pp. 16–26 [viewed 19 April 2022]. https://doi.org/10.1016/j.tripleo.2007.03.015. Available from: https://linkinghub.elsevier.com/retrieve/pii/S1079210407002417

ANDRADE. E.D. Terapêutica medicamentosa em odontologia (3ª ed). São Paulo: Artes Médicas, 2014.

PEDRAZINI, M.C. and GROPPO F.C. Crise Hipertensiva: considerações e condutas no transcirúrgico em Implantodontia. INPerio [online]. 2020, vol. 5, no. 2, pp. 260-267 [viewed 19 April 2022]. Available from: https://implantnewsperio.com.br/crise-hipertensiva-consideracoes-e-condutas-no-transcirurgico-em-implantodontia/

SILVA, M.A.M., et al. Crise Hipertensiva, Pseudocrise Hipertensiva e Elevação Sintomática da Pressão Arterial. Revista Brasileira de Cardiologia. 2013, vol. 26, no. 5, pp. 329-36.

WILLIAMS, B, et al. ESC/ESH Guidelines for the management of arterial hypertension: The Task Force for the management of arterial hypertension of the European Society of Cardiology (ESC) and the European Society of Hypertension (ESH). European Heart Journa [online]. 2018, vol. 39, no. 33, pp. 3021–3104 [viewed 19 April 2022]. https://doi.org/10.1093/eurheartj/ehy339. Available from: https://academic.oup.com/eurheartj/article/39/33/3021/5079119?login=false

BARROSO, W.K.S., et al. Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial – 2020. Arquivos Brasileiros de Cardiologia [online]. 2020, vol. 116, no. 3, pp. 516-658 [viewed 19 April 2022]. https://doi.org/10.36660/abc.20201238. Available from: https://abccardiol.org/article/diretrizes-brasileiras-de-hipertensao-arterial-2020/

PEDRAZINI, M.C., et al. O significado de uma diferença elevada na pressão arterial entre os dois braços e antes dos implantes dentários: um alerta preocupante, reflexões e tratamento. INPerio. 2016, vol. 1, no. 8, pp. 1561-1569.

AZEVEDO, R.B., et al. Covid-19 and the cardiovascular system: a comprehensive review. Journal of Human Hypertension [online]. 2021, vol. 35, no. 1, pp. 4-11 [viewed 19 April 2022]. https://doi.org/10.1038/s41371-020-0387-4. Available from: https://www.nature.com/articles/s41371-020-0387-4

GADVE, V.R., et al. Evaluation of Anxiety, Pain, and Hemodynamic Changes during Surgical Removal of Lower Third Molar under Local Anesthesia. Annals of Maxillofacial Surgery [online]. 2018, vol. 8, no. 2, pp. 247-253 [viewed 19 April 2022]. https://doi.org/10.4103/ams.ams_216_18. Available from: https://www.amsjournal.com/article.asp?issn=2231-0746;year=2018;volume=8;issue=2;spage=247;epage=253;aulast=Gadve

WHO World Health Organization. Why hypertension is a major public health. A global brief on hypertension: silent killer, global public health crisis. World Health Day 2013. Geneva: WHO Press, 2013.

Para ler o artigo, acesse

PEDRAZINI, M.C., et al. Important blood pressure changes in clinical practice: narrative literature review. Revista Gaúcha de Odontologia [online]. 2022, vol. 70, e20220001 [viewed 19 April 2022]. https://doi.org/10.1590/1981-86372022000120210054. Available from: https://www.scielo.br/j/rgo/a/Yynzhn8ndfg5GzswKcVHwLC/

Link(s)

Revista Gaúcha de Odontologia – RGO: https://www.scielo.br/j/rgo/

 

Como citar este post [ISO 690/2010]:

PEDRAZINI, M.C. O que um Cirurgião Dentista deve saber sobre pressão arterial antes de atender seu paciente? [online]. SciELO em Perspectiva | Press Releases, 2022 [viewed ]. Available from: https://pressreleases.scielo.org/blog/2022/04/20/o-que-um-cirurgiao-dentista-deve-saber-sobre-pressao-arterial-antes-de-atender-seu-paciente/

 

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