Tendências e desafios da prematuridade antes e durante a pandemia

Elisangela Aparecida Silva Lizzi, Editora Associada da Epidemiologia e Serviços de Saúde: revista do Sistema Único de Saúde do Brasil, docente da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), campus Cornélio Procópio, Paraná, Brasil.

Betine Pinto Moehlecke Iser, Universidade do Sul de Santa Catarina, Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde, Tubarão, Santa Catarina, Brasil.

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O artigo Prevalência e tendência temporal da prematuridade no Brasil antes e durante a pandemia de covid-19: análise da série histórica 2011-2021, com autoria de Alberton e colaboradores – pesquisadores da Universidade do Sul de Santa Catarina – e publicado no periódico Epidemiologia e Serviços de Saúde: Revista do SUS (RESS, vol. 32, no. 2, 2023) avaliou a ocorrência de prematuridade no Brasil ao longo de dez anos, de 2011 até 2021, passando pelo período da pandemia, em 2020 e 2021. Neste intervalo de tempo, pode-se verificar que 11% dos nascimentos no Brasil foram prematuros, e essa proporção não mudou ao longo do período do estudo (não aumentou nem diminuiu de 2011 até 2021). 

Em uma análise da tendência utilizando modelos estatísticos, verificou-se que nesse período houve um aumento dos nascimentos prematuros nas gestações gemelares e gestantes com 4 a 6 consultas de pré-natal. Entre as macrorregiões do país, a Região Norte apresentou a maior prevalência desta condição, chegando a 11,6%, e esse resultado poderia ser associado a maiores frequências de gravidez na adolescência, baixa escolaridade e pré-natal inadequado na região.

O estudo traz achados interessantes sobre as características maternas. Por exemplo, observou-se que as proporções de prematuridade variaram com a idade materna, ou seja, nos extremos de faixas etárias (10 a 19 anos; 40 e mais anos) houve maior risco de partos prematuros. Sobre a escolaridade, maior proporção de prematuridade foi mostrada entre gestantes com escolaridade inferior a oito anos. No contexto de raça/cor, foi maior nas gestantes indígenas e pretas. Sobre o número de consultas, gestantes que realizaram mais de sete consultas de pré-natal tiveram a menor proporção de prematuridade no estudo. E o baixo número de consultas pré-natal, ou seja, as que realizaram entre quatro e seis consultas apresentaram tendência crescente de prematuridade ao longo do período de estudo. 

Pessoa segurando os pés de um bebê.

Imagem: Unplash.

Lembrando que, para considerar um pré-natal realizado da maneira correta, preconiza-se no mínimo 6 consultas de pré-natal durante a gravidez. Gestações gemelares mostraram-se como indicador forte de prematuridade e com tendência crescente anual no período em estudo. Ao longo dos anos, no geral, a tendência foi estável, mesmo durante a pandemia, mostrando que não houve efeito imediato da pandemia de covid-19 sobre a prematuridade.

Para além de estimar a prematuridade no Brasil e entender a influência da pandemia de covid-19, este estudo contribui para determinar ações específicas na assistência em saúde para a população de maior risco, estimulando ações de prevenção no sistema de saúde que beneficiam famílias de todo o território. Além disso, destaca-se a importância da melhoria do pré-natal de grupos vulneráveis, como gestantes a partir de 40 anos, menor escolaridade, indígenas, gestações gemelares e gestantes com número inferior a 6 consultas de pré-natal. Priorizar estas ações na atenção primária em saúde deve contribuir para melhora desse indicador.

Vale enfatizar como perspectivas deste estudo a importância de uma assistência pré-natal adequada e humanizada, pois algumas condições da mãe ou do desenvolvimento da criança poderiam ser averiguadas, tratadas e acompanhadas de forma oportuna. O nascimento de um bebê prematuro tem impacto nas famílias e suas redes de apoio, uma vez que envolve expectativas da chegada de uma nova vida que corre risco, período longo de internação depois do nascimento e a saúde mental da mãe. Nas unidades básicas de saúde é oferecido assistência pré-natal gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde, toda a mulher tem direito a assistência pré-natal. E, seu filho, é acompanhado por pediatras após o nascimento para consultas na unidade de saúde, vacinas e monitoramento do seu desenvolvimento. 

Para ler o artigo, acesse

ALBERTON, Marcos; ROSA, Vanessa Martins; ISER, Betine Pinto Moehlecke. Prevalence and temporal trend of prematurity in Brazil before and during the COVID-19 pandemic: a historical time series analysis, 2011-2021. Epidemiologia e Serviços de Saúde [online]. 2023, vol. 32, e2022603 [viewed 11 August 2023]. DOI: https://doi.org/10.1590/S2237-96222023000200005. Available from: https://www.scielo.br/j/ress/a/rR86nL5VqpNxFMKK47BRgsb/?lang=en 

Links externos

Epidemiologia e Serviços de Saúde – RESS: https://www.scielo.br/ress

Epidemiologia e Serviços de Saúde – Site: http://ress.iec.gov.br/

MACHADO, M.C.H. et al. Atenção à saúde no primeiro ano de vida de uma coorte prospectiva de lactentes prematuros tardios e a termo de Botucatu, São Paulo, 2015-2017. Epidemiologia e Serviços de Saúde [online].2021, vol. 30e2020619 [viewed 11 August 2023]. DOI: https://doi.org/10.1590/S1679-49742021000200014. Available from: https://www.scielo.br/j/ress/a/5B9WSQw9WrXcqbyxDTRbdLF/ 

TEIXEIRA, J.A.M. et al. Mortalidade no primeiro dia de vida: tendências, causas de óbito e evitabilidade em oito Unidades da Federação brasileira, entre 2010 e 2015. Epidemiologia e Serviços de Saúde [online]. 2019,vol. 28, e2018132 [viewed 11 August 2023]. DOI: https://doi.org/10.5123/S1679-49742019000100006. Available from: https://www.scielo.br/j/ress/a/b553sbJ6YVR3PnznZkqdrrJ/  

 

Como citar este post [ISO 690/2010]:

LIZZI, E.A.S. and ISER, B.P.M. Tendências e desafios da prematuridade antes e durante a pandemia [online]. SciELO em Perspectiva | Press Releases, 2023 [viewed ]. Available from: https://pressreleases.scielo.org/blog/2023/08/11/tendencias-e-desafios-da-prematuridade-antes-e-durante-a-pandemia/

 

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