Como a desnutrição protéica influencia a formação do colágeno na cicatrização de ferimentos?

Por Alena Ribeiro Alves Peixoto Medrado, Professora adjunta, Laura Amélia Santos Sampaio, Acadêmica e Tereza Deiró, Professora adjunta, Universidade Federal da Bahia (UFBA), Salvador, BA, Brasil.

Pesquisadoras da Universidade Federal da Bahia e da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública, realizaram uma pesquisa para avaliar o impacto da desnutrição protéica no processo de cicatrização em ratos. O estudo foi realizado no biotério da Escola de Nutrição da Universidade Federal da Bahia, no qual os ratos foram submetidos a uma dieta com diferentes concentrações de proteínas. Foi observado que os animais nutridos apresentaram maior quantidade de colágeno do que os desnutridos e que o padrão morfológico desta proteína era mais organizado no grupo de animais nutridos. O colágeno é uma proteína muito importante para a cicatrização dos ferimentos, uma vez que é a mais abundante no tecido conjuntivo e é responsável pela geração da força tênsil dos tecidos humanos. Este estudo comprovou no tecido um aspecto que, por muitas vezes, foi relatado na literatura apenas considerando as características clínicas (visuais) do ferimento. Através de análises de fragmentos de pele destes animais, as pesquisadoras avaliaram a formação de colágeno no leito do ferimento por meio de uma análise quantitativa que utilizou um software que permitiu mensurar a quantidade de colágeno ao longo do tempo. Em particular, foram selecionados dois períodos de tempo para verificar a cicatrização nos grupos experimentais de animais nutridos x desnutridos. Para esta análise foi utilizada um método de coloração específico para o estudo do colágeno. Além desta proteína, outros aspectos da cicatrização também foram avaliados neste estudo, como o grau de inflamação, a proliferação de células, entre outros. O estudo apresenta relevância no contexto atual, pois a desnutrição afeta particularmente milhares de mulheres grávidas, neonatos e crianças em idade pré-escolar, no mundo (FRANÇA, et al., 2009). No Brasil, as regiões norte e nordeste apresentam alta prevalência de desnutrição (ASSIS, et al., 2007). A persistência de quadros de desnutrição promove o agravamento do estado clínico dos pacientes, a deficiência na cicatrização de feridas e compromete o sistema imune. Assim, pode contribuir para o prolongamento do tempo de hospitalização e acréscimo dos custos hospitalares. Também compromete a reabilitação do paciente e seu retorno às atividades habituais, reduzindo a qualidade de vida deste (EMERY, 2005). Os resultados do presente estudo sugerem que algumas etapas do processo de reparo parecem não sofrer impacto da desnutrição, como a formação de novos vasos sanguíneos, a presença de edema e de infiltrado inflamatório. Porém, a desnutrição levou à rápida resolução do edema e a menor concentração celular no infiltrado inflamatório na fase proliferativa do reparo tecidual, e a uma menor expressão do colágeno, caracterizando uma cicatrização deficiente em animais desnutridos.

Fonte: Autores, 2018.

Figura 1. Zona de transição entre a epiderme e a derme normal e área da ferida que evidencia um estroma amorfo e a presença de infiltrado discreto de células inflamatórias em um rato desnutrido, 10 dias após a cirurgia e (B) lesão na derme de um animal nutrido mostrando tecido de granulação rico em fibroblastos e vasos sanguíneos, 10 dias após a cirurgia. Hematoxilina-eosina, 100x. (C) Área de lesão cutânea de um animal desnutrido que ilustra baixa expressão de fibras colágenas na derme, 10 dias após a cirurgia e (D) expressão de fibras colágenas (vermelho) caracterizando o processo de fibroplasia em um animal nutrido, 10 dias após cirurgia. Sirius vermelho, 100x.

Referências

ASSIS, A.M.O., et al. Desigualdade, pobreza e condições de saúde e nutrição na infância no Nordeste brasileiro. Cad. Saúde Pública [online]. 2007, vol. 23, no. 10, pp. 2337-2350, ISSN: 0102-311X [viewed January 31 2019]. DOI: 10.1590/S0102-311X2007001000009. Available from: http://ref.scielo.org/6yzctx

EMERY, P.W. Metabolic changes in malnutrition. Eye [online]. 2005, vol. 19, pp. 1029-1034, e-ISSN: 1476-5454. [viewed January 31 2019]. DOI: 10.1038/sj.eye.6701959. Available from: http://www.nature.com/eye/journal/v19/n10/full/6701959a.html

FRANÇA, T.G.D., et al. Impact of malnutrition on immunity and infection. J. Venom. Anim. Toxins incl. Trop. Dis. [online]. 2009, vol. 15, no. 3, pp. 374-390, ISSN: 1678-9199 [viewed January 31 2019]. DOI: 10.1590/S1678-91992009000300003. Available from: http://ref.scielo.org/bf882x

Para ler o artigo, acesse

SAMPAIO, L.A.S., et al. Impacto da desnutrição proteica na cicatrização de feridas cutâneas em ratos. Rev. Nutr. [online]. 2018, vol. 31, no. 5, pp. 433-442, ISSN: 1415-5273 [viewed January 31 2019]. DOI: 10.1590/1678-98652018000500001. Available from: http://ref.scielo.org/tknx8t

Links externos

Revista de Nutrição – RN: <http://www.scielo.br/rn>

 

Como citar este post [ISO 690/2010]:

MEDRADO, A.R.A.P., SAMPAIO, L.A.S. and DEIRÓ, T. Como a desnutrição protéica influencia a formação do colágeno na cicatrização de ferimentos? [online]. SciELO em Perspectiva | Press Releases, 2019 [viewed ]. Available from: https://pressreleases.scielo.org/blog/2019/01/31/como-a-desnutricao-proteica-influencia-a-formacao-do-colageno-na-cicatrizacao-de-ferimentos/

 

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