O exercício físico é benéfico mesmo na desnutrição?

Por Emerson Cruz de Oliveira, Professor, Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), Centro Desportivo da UFOP, Laboratório de Fisiologia do Exercício, Biomecânica e Desempenho Humano, Ouro Preto, MG, Brasil

Pesquisadores do Centro Desportivo e da Escola de Nutrição da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) demonstraram os benefícios do exercício físico em animais desnutridos. Foi verificado que a desnutrição piora indicadores da saúde do fígado, corroborando estudos prévios (KUMARI, et al., 1993), afeta marcadores do estresse oxidativo e gera perda de peso corporal. O exercício físico melhorou esses indicadores e gerou ganho de peso, revertendo assim essa que é a característica mais marcante da desnutrição. Outros benefícios do exercício físico para animais desnutridos já haviam sido reportados (GALDINO, et al., 2000). A pesquisa foi conduzida nos laboratórios da UFOP (Ouro Preto, MG) e foi publicada na Revista de Nutrição (vol. 31, no. 5) sob o título “O exercício físico melhora o ganho de peso corporal e a função hepática em ratos desnutridos sem perturbar o balanço de redox”.

Os resultados são inovadores pois, apesar da pesquisa ter sido realizada em modelo animal, os resultados abrem a perspectivada para novos estudos envolvendo seres humanos, pois geram novas perguntas:

a) Será que humanos acometidos com doenças que geram desnutrição também podem realizar exercício físico sem prejudicar ainda mais sua saúde? Quais os benefícios dos exercícios para idosos acometidos pela desnutrição?

b) As brincadeiras de correr e suar a camisa realmente protegem crianças desnutridas de males provenientes da desnutrição?

c) Quais são os outros benefícios que o exercício pode trazer a organismos desnutridos? Como seria a recuperação dessa desnutrição precoce?

Para essa pesquisa, 32 ratas foram igualmente divididas nos grupos Controle Sedentário, Controle Treinado, Desnutrido Sedentário e Desnutrido Treinado. O protocolo de treinamento consistiu em nadar por 30 minutos continuamente por 5 dias/semana, durante 8 semanas.

Fonte: Autores, 2018.

Figura 1. Crescimento de ratos treinados e sedentários, controle e desnutridos. Após a quinta semana, os animais desnutridos treinados tiveram maior peso corporal que os desnutridos sedentários (valores de p no gráfico). Não foram observadas diferenças entre os animais controle sedentário e os controle treinados.

A desnutrição precoce foi conseguida reduzindo a quantidade total de proteína oferecida na dieta dos animais. Assim, desde o nascimento os animais já recebiam quantidades de proteínas aquém de suas necessidades e consequentemente apresentaram um crescimento prejudicado, como indicam os dados de peso corporal dos animais desnutridos. Nesse experimento animais desnutridos adultos não se aproximaram do peso dos animais controle quando jovens.

O estresse oxidativo é outro tema que vem despertando o interesse de pesquisadores há algum tempo, mas ainda existem muitas lacunas no conhecimento que precisam ser preenchidas, o que justificou a realização do presente estudo. Assim, o estresse oxidativo foi pesquisado em um contexto de desnutrição, que piora o balanço redox, associado ao exercício físico que, se realizado de maneira leve a moderada, pode melhorar esse balanço.

Essa pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética para o Uso de Animais de Laboratório da UFOP e foi realizada com recursos da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas (FAPEMIG) do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação (PROPP) da Universidade Federal de Ouro Preto (Edital PROPP 07/2018).

Referências

GALDINO, R., et al. Protein malnutrition does not impair glucose metabolism adaptations to exercise-training. Nutr Res [online]. 2000, vol. 20, no. 4, pp. 527-535, ISSN: 0271-5317 [viewed 07 February 2019]. DOI: 10.1016/S0271-5317(00)00144-5. Available from: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0271531700001445

KUMARI, R., et al. Serum enzyme abnormalities in protein energy malnutrition. Indian Pediatr [online]. 1993, vol. 30, n. 4, pp. 469-473, e-ISSN: 0974-7559 [viewed 07 February 2019]. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/8288327

Para ler o artigo, acesse

OLIVEIRA, E.C., et al. O exercício físico melhora o ganho de peso corporal e a função hepática em ratos desnutridos sem perturbar o balanço de redox. Rev. Nutr. [online]. 2018, vol. 31, no. 5, pp. 443-453, ISSN: 1415-5273 [viewed 07 February 2019]. DOI: 10.1590/1678-98652018000500002. Available from: http://ref.scielo.org/nt5kxq

Links externos

Revista de Nutrição – RN: <http://www.scielo.br/rn>

 

Como citar este post [ISO 690/2010]:

OLIVEIRA, E.C. O exercício físico é benéfico mesmo na desnutrição? [online]. SciELO em Perspectiva | Press Releases, 2019 [viewed ]. Available from: https://pressreleases.scielo.org/blog/2019/02/07/o-exercicio-fisico-e-benefico-mesmo-na-desnutricao/

 

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