A diálise peritoneal não planejada reduz a morbimortalidade de pacientes em terapia renal substitutiva?

Por Marcela Lara Mendes, enfermeira Coordenadora da Diálise Peritoneal do Hospital das Clínicas de Botucatu – FMB, Unesp, Botucatu, SP, Brasil

O grupo de diálise peritoneal do Hospital das Clínicas de Botucatu vem utilizando Diálise peritoneal em pacientes de início dialítico não planejado, também conhecido como de início urgente. Segundo o artigo “Diálise peritoneal como primeira opção de tratamento dialítico de início não planejado” publicado no Jornal Brasileiro de Nefrologia (vol. 39, no. 4), a Diálise Peritoneal (DP) tem surgido como alternativa viável, segura e complementar à hemodiálise (HD) no início dialítico não planejado, tanto em países desenvolvidos como em desenvolvimento, tornando-se também ferramenta útil para crescimento do programa de DP.

A diálise não planejada, pode ser definida como início de HD sem acesso vascular definitivo funcionante, isto é, utilizando cateter venoso central (CVC) como acesso, ou com início de DP dentro de 7 dias após o implante do cateter. No Brasil, aproximadamente 60% dos pacientes incidentes em terapia renal substitutiva (TRS) não tem acesso definitivo e precisam ser tratados através de CVC. Na unidade de diálise do Hospital Universitário da Faculdade de Medicina de Botucatu, a realidade é ainda pior: mais de 90% dos pacientes incidentes iniciam a diálise de modo urgente e 50% dos pacientes prevalentes não tem acesso vascular definitivo funcionante e são tratados através de CVC tunelizado. Dias, et al. (2016) publicaram recentemente um estudo que incluíram 35 pacientes no período de julho de 2014 a janeiro de 2015. A idade foi 57,7± 19,2 anos, diabetes foi a principal etiologia da DRC (40,6%) e uremia foi a principal indicação de diálise (54,3%). O controle metabólico foi alcançado após cinco sessões de DP de alto volume, e os pacientes permaneceram em DP intermitente por 23,2 ± 7,2 dias recebendo 11,5 ± 3,1 sessões DP intermitente. Peritonite e complicações mecânicas ocorreram em 14,2 e 25,7%, respectivamente. A taxa de mortalidade foi de 20%, e sobrevida da técnica foi de 85,7%. O programa de DP crônica apresentou crescimento de 41,1%. Enfim, nossa experiência mostra que o conceito de início não planejado na DP crônica pode ser uma alternativa viável e segura, complementar a hemodiálise e uma ferramenta para aumentar o programa de DP com os pacientes incidentes que iniciam a terapia de diálise.

De modo recente, Perl, et al. (2011) e Vonesh, et al. (2006)  têm apontado o impacto do tipo de acesso vascular na mortalidade de pacientes incidentes em HD. Estudos constataram que a utilização de CVC está diretamente associada com a sobrevivência reduzida, especialmente nos primeiros 90 dias de terapia. Além disso, há maior risco de bacteremia, septicemia e hospitalizações em pacientes que utilizam CVC quando comparados aos pacientes em uso de fistula arteriovenosa (FAV), enxerto ou DP.

Assim, a DP parece ser uma opção para o início urgente de diálise crônica. Este estudo reforça e auxilia a vantagem de um paciente renal crônico não iniciar sua terapia utilizando CVC, preservando assim o acesso vascular e a função renal residual, podendo reduzir a morbidade e mortalidade desses pacientes.

Referências

DIAS, D. B., et al. Peritoneal dialysis can be an option for unplanned chronic dialysis: initial results from a developing country. Int Urol Nephrol [online]. 2016, vol. 48, pp. 901-906, ISSN: 1573-2584 [viewed 12 February 2018]. DOI: 10.1007/s11255-016-1243-x. Avaliable from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/26897038

PERL, J., et al. Hemodialysis vascular access modifies the association between dialysis modality and survival. J Am Soc Nephrol [online]. 2011, vol. 22, no. 6, pp. 1113-1121, ISSN: 1533-3450 [viewed 12 February 2018]. DOI: 10.1681/ASN.2010111155. Avaliable from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3103730/

VONESH, E. F., et al. Mortality studies comparing peritoneal dialysis and hemodialysis: What do they tell us? Kidney Int [online]. 2006, no. 103, pp. S3-S11, ISSN: 0085-2538 [viewed 12 February 2018]. DOI: 10.1038/sj.ki.5001910. Avaliable from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/17080109

Para ler o artigo, acesse

MENDES, M.L., et al. Diálise peritoneal como primeira opção de tratamento dialítico de início não planejado. J. Bras. Nefrol. [online]. 2017, vol. 39, no. 4, pp. 441-446, ISSN: 2175-8239 [viewed 12 February 2018]. DOI: 10.5935/0101-2800.20170077. Available from: http://ref.scielo.org/99q538

Link externo

Jornal Brasileiro de Nefrologia – JBN: <www.scielo.br/jbn>

 

Como citar este post [ISO 690/2010]:

MENDES, M.L. A diálise peritoneal não planejada reduz a morbimortalidade de pacientes em terapia renal substitutiva? [online]. SciELO em Perspectiva | Press Releases, 2018 [viewed ]. Available from: https://pressreleases.scielo.org/blog/2018/03/15/a-dialise-peritoneal-nao-planejada-reduz-a-morbimortalidade-de-pacientes-em-terapia-renal-substitutiva/

 

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